Título: Energia une gigantes
Autor: Rafael Rosas
Fonte: Jornal do Brasil, 11/01/2006, Economia & Negócios, p. A17

As duas maiores empresas brasileiras uniram forças para buscar pela primeira vez fontes de energias baratas no continente africano. A Petrobras e a Vale do Rio Doce assinaram ontem memorando de entendimento para estudos sobre a viabilidade de exploração, produção e transporte de gás natural em Moçambique.

A Petrobras, que está presente também na Nigéria, Angola, Tanzânia, Líbia e Guiné Equatorial, já atuou em Moçambique, há cerca de 15 anos, mas na época não havia viabilidade econômica para as operações da empresa. A Vale venceu a licitação para explorar a região moçambicana de Moatize, rica em carvão.

Embora as empresas ainda não tenham estimativas sobre os valores que poderão ser investidos ou o tamanho de possíveis reservas de gás, as expectativas são positivas, já que Moçambique possui dois campos de gás natural sendo explorados pela empresa sul-africana Sasol.

De acordo com o presidente da Vale, Roger Agnelli, caso as duas companhias encontrem reservas viáveis de gás natural, a matéria-prima poderá ser utilizada para atrair parceiros para o desenvolvimento de projetos de siderurgia, pelotização ou processamento de minérios.

- Precisamos saber onde, quanto e como vamos levar adiante os projetos. Tudo em mineração é a longo prazo. Vamos começar os estudos agora e esperamos ter resultado nos próximos meses ou anos - disse Agnelli.

O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, lembra que o acordo abre a possibilidade de ''complementaridade de investimentos'', já que a estatal desenvolveria a produção e a Vale seria grande consumidora.

- Já temos presença exploratória na Tanzânia e podemos ampliar participação em área que tem potencial reconhecido de produção de gás natural - ressalta.

Gabrielli frisa que, como a união entre as duas empresas se destinará a explorar uma área pioneira, é possível que haja estímulos do governo moçambicano, que deve licitar a região caso se comprove a viabilidade de exploração de gás natural.

- Temos que olhar oportunidades fora do Brasil, e Moçambique é uma delas - reforçou.

Para o presidente da Vale, a empresa deve sempre buscar opções para conseguir energia necessária ao desenvolvimento de projetos. Segundo Agnelli, além de Moçambique, a companhia busca oportunidades de crescimento em suas operações no Oriente Médio e negocia a entrada no bloco de controle da Usiminas.

- Queremos apoiar o crescimento. O Brasil tem que acelerar o passo na siderurgia.

Agnelli ressalta também o desenvolvimento das reservas de carvão da região moçambicana de Moatize, ganhas pela Vale em licitação realizada pelo governo do país.

- Os estudos de viabilidade terminam em julho e as surpresas foram positivas. As reservas da região são de 2,4 bilhões de toneladas de carvão - revela Agnelli.

Moatize produzirá até 14 milhões de toneladas anuais de carvão térmico e metalúrgico. Uma alternativa para utilizar parte da matéria-prima seria a construção de uma termelétrica com capacidade de gerar 1.500 MW.

Para escoar o restante da produção, a Vale deve optar pelo porto de Nacala, no Norte do país. Para isso, negocia com o governo moçambicano a utilização de uma ferrovia de cerca de 1 mil quilômetros, grande parte já construída, mas que demandará investimentos da empresa brasileira e atravessará o Malawi.