Título: Os prós e contras da menor exposição cambial
Autor: Carlos Thadeu de Freitas Gomes
Fonte: Jornal do Brasil, 10/01/2006, Economia & Negócios, p. A18

Se o ano de 2005 deixou a desejar em termos de crescimento econômico, para o setor externo foi excelente. Não só em relação aos surpreendentes resultados da balança comercial, com novos recordes de exportações a despeito da valorização do real, mas também quanto à diminuição da vulnerabilidade externa, com a redução do endividamento externo e da exposição cambial da economia brasileira. Entretanto, essa redução gerou grandes custos fiscais, pela substituição rápida da dívida em dólar por uma mais custosa denominada em reais. A vulnerabilidade externa da economia havia sido exposta recentemente durante a crise de confiança de 2002, quando o ajuste cambial foi responsável por um aumento de R$ 147 bilhões da dívida e, mesmo com todo o esforço fiscal do governo, a dívida líquida do setor público atingiu o pico de 61,6% do PIB em setembro daquele ano.

Com um cenário internacional muito favorável, de crescimento econômico mundial e liquidez em alta, além dos saldos positivos em transações correntes, tem ocorrido uma forte entrada de divisas pela conta capital, sustentando a valorização da moeda brasileira. Neste ambiente se fez possível a redução, tanto da parcela interna da dívida indexada ao dólar, quanto da dívida externa. Em 2002 o total da dívida atrelada ao câmbio, interna e externa, somava 41% da dívida total. Hoje, enquanto a dívida externa representa cerca de 7% da dívida líquida total, a dívida mobiliária interna está praticamente zerada.

A dívida interna indexada ao dólar, que no início de 2003 totalizava de US$ 70 bilhões, foi reduzida para US$ 16 bilhões no começo de 2005, apesar dos grandes custos fiscais de sua substituição por títulos indexados à Selic e prefixados. Como conseqüência, a dívida mobiliária interna total cresceu 16% até novembro, enquanto a dívida líquida total do setor público aumentou 3%.

No final do ano, o Banco Central retomou as operações de compras e leilões de swaps reversos, reduzindo-a para US$ 3 bilhões. Mantido o atual ritmo de operações, com colocações diárias de US$ 400 milhões, a parcela interna da dívida atrelada ao câmbio chegará a zero em poucas semanas.

Quanto à dívida externa, também existe a perspectiva que esta seja anulada em pouco tempo. Enquanto a dívida externa bruta se situa no patamar de US$ 75 bilhões, o seu conceito líquido, que de fato representa a exposição cambial, é de apenas US$ 25 bilhões.

Somando a posição do setor público com a do setor privado, temos uma situação de endividamento externo bastante favorável. A dívida externa totaliza hoje 28,2% do PIB, o que representa um nível bastante favorável se comparado aos 45,9% no final de 2002. Além disso, o nível de reservas aumentou consideravelmente, proporcionando uma melhor capacidade de pagamento das obrigações. Enquanto as reservas internacionais líquidas são de US$ 50,8 bilhões, o serviço da dívida (juros e amortizações) projetado para 2006 é de US$ 39,5 bilhões.

Para 2006, as perspectivas são de prolongamento dessa situação favorável, principalmente no primeiro semestre, o que dará espaço ao Banco Central para começar a pré-pagar a dívida externa.

Contudo, com a inflação em queda e o afrouxamento monetário em ritmo lento, as taxas de juros reais internas deverão continuar elevadas. Como a liquidez internacional continua alta e o ciclo de aperto monetário nos Estados Unidos chega perto do fim, o diferencial de juros continuará elevado, o que significa incentivos ao posicionamento em reais, limitando a desvalorização da moeda nacional. Logo, são inócuas e caras as intervenções do Banco Central no mercado cambial, enquanto não diminuir mais rapidamente a taxa de juros.

Mesmo se as taxas de juros reais internas caírem, através uma atuação mais ousada do Banco Central com relação à Selic do que a prevista, a alta do dólar ainda será lenta, pois haverá sobras de divisas sustentadas pela balança comercial e pela conta capital, com entrada líquida de divisas. As exportações continuarão em alta com a melhoria dos termos de troca (alta dos preços dos produtos exportados em relação aos importados), dado que algumas commodities devem permanecer valorizadas.