Título: Indústria segue a passos lentos
Autor: Sabrina Lorenzi e Fernanda Rocha
Fonte: Jornal do Brasil, 11/01/2006, Economia & Negócios, p. A19

O acúmulo de estoques na economia brasileira persiste e ameaça a indústria no início de 2006. O crescimento módico de 0,6% da produção entre outubro e novembro, divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), frustrou de vez as expectativas de reação do setor no último trimestre de 2005. O aumento não compensa a queda de 2,2% em setembro, seguida da estagnação em outubro. Resta saber o comportamento das vendas e dos estoques no Natal, o que definirá se a indústria entra ou não com o pé direito em 2006.

O chefe do Departamento de Indústria do IBGE, Silvio Sales, afirma que o moderado crescimento de 0,6% pode indicar que os estoques não recuaram conforme se estimava. Em linha, o diretor de estudos macroeconômicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Paulo Levy, avalia que a ''economia brasileira está mais fraca do que se esperava'', apesar de, na segunda-feira, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ter dito que os dados do quarto trimestre indicariam forte recuperação da economia.

O vaivém da indústria brasileira não abrange o setor inteiro. Cada mês que passa, a indústria apresenta um carro-chefe diferente. Na pesquisa divulgada ontem, o IBGE mostra que os investimentos foram responsáveis pela reação do setor em novembro. A produção de bens de capital cresceu 2,2%, depois de um recuo de 4,2% em outubro.

Com bens duráveis acontece justamente o contrário: a categoria havia liderado o crescimento em outubro, com 2,7%. Em novembro, apresentou a pior taxa, com queda de 1,4% frente ao mês anterior.

- A produção de duráveis cresceu em dois dígitos até meados do ano passado e mesmo com quedas sucessivas continua com taxa de 11% de aumento - observa Sales.

A produção dos bens intermediários cresceu apenas 0,2%, também após suave queda. Já os bens não-duráveis, dependentes do consumo básico da população, mantiveram ligeiro crescimento, com alta de 0,5% em novembro.

Apesar do aumento de 0,6% na produção industrial, o IBGE continua identificando tendências de queda para o setor. O índice que melhor capta tendência de curto prazo - a média trimestral - aponta taxas negativas para todas as categorias, com pior previsão para os duráveis. O indicador de média móvel trimestral apura recuo de 2,8% no trimestre encerrado em novembro em relação ao trimestre encerrado em outubro na trajetória desses bens. Sob a ótica deste indicador, a indústria segue no vermelho, com recuo de 0,5% em novembro.

- Os dados mostram uma recuperação inferior às expectativas do mercado, que projetava crescimento de 1% a 1,5% em novembro - justifica Levy, do Ipea, que acredita que em dezembro o crescimento seja superior a 1%.

Nos primeiros 11 meses de 2005, a produção industrial aumentou 3,1%.