Título: Barreiras são heranças do passado
Autor: Lígia Maria
Fonte: Jornal do Brasil, 16/01/2006, Brasília, p. D6

Fazer intervenções pontuais sem pensar no conjunto é problema não somente em Brasília, mas na maioria das cidades do País. Segundo a arquiteta Sandra Perito, do Instituto Brasil Acessível, a arquitetura do passado deixou um saldo de complicações para serem adaptadas de forma a atender os deficientes e pessoas com problemas de locomoção. - As pessoas com necessidades especiais eram vistas como inválidas e incapazes de trabalhar ou ter uma vida normal e independente. Por isso, os espaços urbanos não foram pensados para incluí-las - disse.

O caso do posto Cidadão Capaz, de acordo com a arquiteta, é emblemático. Ela explicou que é comum pensar em empreendimentos que promovam a inclusão social sem questionar, por exemplo, se o sistema de transporte público atende ao deficiente físico.

- É preciso perguntar: como a pessoa chegará ao local do trabalho? Refletir sobre a complexidade do problema é o que muda toda a cultura - defendeu Sandra Perito.

Complexidade - O caso do posto da 109 Sul envolve na discussão vários órgãos públicos. São eles: Secretarias de Coordenação das Administrações (Sucar) e de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh), além da Coordenaria para Integração da Pessoa com Deficiência do Distrito Federal (Corde-DF). A solução final da questão depende da Administração de Brasília.

- Cabe à Administração de Brasília propor e aprovar uma solução - informou Márcia Freitas, diretora da Corde-DF.

Sobre a questão da preservação do patrimônio arquitetônico, Alfredo Gastal, superintendente da Regional do Instituto Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), disse não faz sentido manter a arquitetura da cidade em detrimento da inclusão social. De acordo com ele, ao patrimônio interessa o aspecto da acessibilidade e qualidade de vida.

-A preservação tem sentido apenas se vista a partir do aspecto humano. Para esse problema do posto da 109 Sul, tem-se de pensar em alternativas capazes de viabilizar a inclusão social dos deficientes sem esquecer as diretrizes do tombamento - disse Gastal.

Um grupo de engenheiros da Administração de Brasília estiveram no posto Cidadão Capaz para analisar a situação. Eles concluíram que a intervenção no local é possível, mas exige de cuidados.

- A Administração de Brasília compromete-se em solucionar a questão até o final de fevereiro, articulando com todos os órgãos envolvidos uma solução que beneficie a cultura da cidade e a inclusão social - disse Renato Castello, chefe de gabinete da Administração de Brasília.