Título: A difícil rotina dos deficientes na capital federal
Autor: Lígia Maria
Fonte: Jornal do Brasil, 16/01/2006, Brasília, p. D6

Tombamento impede reformas que eliminam os obstáculos arquitetônicos aos portadores de necessidades especiais

Os deficientes físicos estão excluídos do Patrimônio Cultural da Humanidade. Brasília, além de não ter infra-estrutura capaz de incluir o portador de necessidades especiais, oferece obstáculos burocráticos à acessibilidade. Essa é a opinião de Pablo da Paz, usuário de cadeira de rodas e frentista, que trabalha no posto de combustíveis Cidadão Capaz, na 109 Sul. Criado há três anos para empregar os portadores de deficiência, o empreendimento era inacessível ao frentista. As guias altas e a rampa íngreme da passagem subterrânea eram algumas das dificuldades. De acordo com ele, o dono do posto, José Eduardo Rezek, procurou uma solução.

- Queríamos uma passarela aérea, mas descobrimos que isso não é possível porque o Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Arquitetônico não deixa fazer uma intervenção dessas aqui - explicou.

Segundo José Eduardo Rezek, a justificativa comentada pelo frentista foi dada pela consultoria técnica da Coordenadoria para Integração da Pessoa com Deficiência do Distrito Federal (Corde-DF). Alegou-se também que uma intervenção na rampa que dá acesso à passagem subterrânea seria inviável. Envolveria uma engenharia complexa, para não afetar o Eixão.

- Por outro lado, não sei como mudariam essa rampa íngreme. Ela é muito perigosa para o cadeirante. Isso me faz pensar que o tombamento de Brasília tornou a situação desumana para nós, deficientes - comentou Pablo da Paz.

Improviso - Os colegas de Pablo improvisaram uma passagem no meio do Eixo W. Eles rebaixaram as guias e fizeram um caminho de cimento no meio do gramado. É por esse trecho que ele atravessa a via, duas vezes por dia. Pablo não poderia fazer esse caminho.

- Sei que aqui não tem faixa de pedestre, porque é uma via de velocidade. Estou me arriscando - comentou.

Em defesa de sua atitude, o frentista argumentou que é um cidadão como qualquer outro: precisa do trabalho para sustenta-se, comprar remédios, fazer a manutenção da cadeira de rodas.

- Tenho muitos amigos que ficam em casa para não enfrentar as dificuldades do mundo - argumentou.

José Eduardo Rezek, dono do posto, disse que comunicou a situação à Administração de Brasília e Coordenadoria para Integração da Pessoa com Deficiência do Distrito Federal, em julho de 2005. No entanto, não obteve uma resposta satisfatória.