Título: PF ouve suspeitos de montar caixa 2
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 12/01/2006, País, p. A3

A Polícia Federal (PF) começou a ouvir em Belo Horizonte depoimentos de suspeitos de participação na montagem do caixa dois da campanha do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) ao governo de Minas Gerais em 1998, quando ele disputava a reeleição e perdeu para Itamar Franco (PMDB).

Foram ouvidos o ex-diretor financeiro e comercial da Copasa (estatal de água e saneamento) Fernando Soares, o coordenador-geral da campanha e ex-presidente da Cemig (estatal de energia), Carlos Eloy, e o ex-secretário-adjunto de Comunicação do governo Azeredo (1995-1998), Eduardo Guedes Neto.

A PF investiga se o caixa dois tucano foi abastecido com dinheiro público. O trabalho aproveita as apurações feitas em ação civil pública por improbidade administrativa movida em 2003 contra três empresas e oito pessoas, entre elas Azeredo e o atual vice-governador mineiro e então candidato a vice na chapa tucana de 1998, Clésio Andrade (PL).

As estatais, segundo a ação conjunta do Ministério Público Federal e Estadual, repassaram R$ 3 milhões para a campanha tucana como se fosse patrocínio do evento motociclístico Enduro da Independência. A exclusividade na organização do evento era da agência SMPB, que tinha Marcos Valério de Souza como sócio. Valério e seus dois ex-sócios também são réus na ação, ao lado de Guedes Neto e dos ex-presidentes de Copasa e Comig.

Segundo o delegado Praxíteles Praxedes, seu depoimento foi ''pouco esclarecedor''. Soares afirmou que apenas atendeu a uma determinação de liberação de recursos para o evento, vinda da Secretaria de Comunicação. O ex-coordenador da campanha de Azeredo, Carlos Eloy, que presidiu a Cemig de 1991 a 1998, afirmou que ''nunca teve conhecimento'' de caixa dois, pois ''só cuidava da parte política''.

O delegado Praxedes disse que as apurações estão no início e não é possível confirmar desvio de dinheiro para a campanha.

- Não podemos tirar conclusões. Existem depoimentos que são controversos e não coincidem - afirmou.

O advogado Vinicio Kalid, irmão do consultor financeiro Jader Kalid, também seria ouvido ontem, mas não foi intimado em tempo. Jader Kalid teria repassado dinheiro do caixa dois do PT para contas de Duda Mendonça no exterior.

Para hoje, estão previstos os depoimentos dos dois tesoureiros da campanha de Azeredo em 1998, Cláudio Mourão e Denise Landim. A PF também deve ouvir o ex-presidente da Copasa Ruy Vianna Lage e Vera Veloso, cuja intimação não foi explicada pela PF. (FP)