Título: Brasil gasta fortuna no Haiti
Autor: Sérgio Pardellas e Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 16/01/2006, País, p. A3

Valor representa quase seis vezes o que foi aplicado no Rio em investimentos diretos do Fundo Nacional de Segurança

BRASÍLIA - A morte do general Urano Teixeira Bacellar reabriu a discussão em torno da presença dos soldados brasileiros na missão da paz no Haiti. Levantamento feito pela Associação Contas Abertas a pedido do Jornal do Brasil apimenta ainda mais a polêmica que colocou em lados opostos durante a semana pesos pesados do governo, como o vice-presidente José Alencar (PMR) e o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. Segundo o levantamento, desde o seu início, a missão no Haiti já custou ao país R$ 266,8 milhões. Foram gastos R$ 142,5 milhões em 2004 e R$ 86,3 milhões em 2005 na ação Missão das Nações Unidas para o Haiti. O valor representa 5,8 vezes o que o governo aplicou de investimentos diretos do Fundo Nacional de Segurança Pública do Rio no mesmo período, um total de R$ 46 milhões.

Entre os gastos no Haiti, constam aparelhos e equipamentos para esporte e diversões, no valor de R$ 59 mil; e festividades e homenagens, que totalizaram R$ 16,9 mil. Apenas no soldo dos militares foi aplicado R$ 33,5 milhões. Também foram desembolsados R$ 4,8 milhões para compra de uniformes e tecidos. A confecção de flâmulas, bandeiras e insígnias consumiu R$ 62 mil. Em 2005, só em armamentos gastou-se R$ 2,2 milhões.

- Sempre fui contrário à presença das tropas brasileiras no Haiti. O dinheiro deveria ser destinado à segurança do Rio. Independentemente de ser a favor ou contra a permanência das tropas, deveria interessar a todos um debate sobre o que estamos fazendo no Haiti e qual o futuro de nossa intervenção - argumenta o o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ). Para ele, outros fatores complicam a situação no Haiti, revelando que, apesar de toda a boa vontade, a intervenção militar naquele país pode ter o destino de todas as outras: o fracasso.

- Apesar da presença das tropas e do exílio de Aristides, o diálogo político no Haiti tem se deteriorado. Se as eleições forem mesmo em 7 de fevereiro, deve ganhar um amigo de Aristides, René Préval. Pode morrer na cadeia Yvon Neptune, um ex-ministro de Aristides, cuja prisão tem sido denunciada por grupos de direitos humanos. Esta semana, sua família negou que tivesse morrido mas sua saúde é precária - ponderou.

O senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que votou a favor da missão e visitou o Haiti semana passada, também se assustou com os valores:

- É alto. Não estão equivocados os números? - questionou.

Mas para Cristovam, ao contrário de Gabeira, o Brasil presta um grande serviço ao comandar a missão.

- A morte (do general ) não justifica a saída. Dizer que lá é outro país é uma falta de solidariedade. Eu estive lá. Há ruas em que só se pode andar a bordo de tanque de guerra. Se sairmos agora estaremos entregando aquele país à barbárie - disse o senador.

Uma solução, pondera o petista, seria estabelecer um prazo para a saída dos brasileiros condicionando-a à entrada de novas tropas para evitar o que ocorreu em Ruanda em 1994. Na época, os Estados Unidos e a Grã-Bretanha não ofereceram soldados para as tropas de paz das Nações Unidas, enviadas a Ruanda para tentar evitar o massacre. Resultado: houve um genocídio de 800 mil pessoas.