Título: Mercosul prepara acordo com Israel
Autor: Marcelo Ambrosio
Fonte: Jornal do Brasil, 16/01/2006, Internacional, p. A9

Brasil e outros integrantes do bloco assinam memorando para negociações rumo à criação de Área de Livre Comércio

Maior parceiro comercial de Israel na América Latina, o Brasil prepara um salto para ampliar ainda mais o volume do relacionamento comercial entre os dois países. A assinatura, em dezembro último, do chamado Acordo-Quadro, é o marco inicial de uma negociação que culminará na instalação de uma Área de Livre Comércio Mercosul-Israel. Não há previsão oficial ainda para que isso ocorra, mas a disposição dos dois lados é grande, tanto que as primeiras reuniões preparatórias estão previstas para começar já em fevereiro. Um dos principais articuladores do termo é o embaixador do Brasil em Israel, Sérgio Moreira Lima. Firme na estratégia de política externa agressiva voltada para a ampliação das oportunidades de comércio, o embaixador está há três anos em Tel Aviv e o acordo é fruto de um intenso trabalho de bastidores junto ao governo local.

- Imagino que talvez possamos concluir esse processo até o fim do ano. O Acordo-Quadro terá enorme impacto nas relações e sinaliza positivamente para o setor privado de que as negociações efetivamente começarão logo. Estamos correndo com a fase de coleta de dados - afirma Moreira Lima ao JB , apontando para a pilha de papéis sobre a mesa de seu apartamento, no Rio.

A pressa se justifica com números. Israel é um país com grande interesse em um maior intercâmbio comercial com o Brasil. Desde a posse na embaixada, o Itamaraty vem conseguindo ampliar as exportações brasileiras de forma significativa. De 2003 para 2004 o crescimento girou em torno de 20%, de 2004 para 2005 passou de 70% e, no ano passado, fechou com mais 23% de ganho. Um volume total de US$ 260 milhões - considerado ainda baixo diante do potencial - baseado principalmente na soja e na carne, em um total geral de US$ 730 milhões. Outros itens, no entanto, tiveram crescimento acentuado, como tubos de cobre, calçados, suco de laranja e plataformas para telefonia celular, conforme dados do Ministério da Indústria e Comércio.

Segundo o embaixador, o status dessa relação ganhou nova dinâmica depois que Brasília retomou os contatos de alto nível, com a visita do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, em março do ano passado e a vinda a Brasília do então vice-premier - hoje premier interino - Ehud Olmert. Tal relacionamento estava parado há dez anos, quando o então chanceler Luiz Felipe Lampréia esteve no país.

- A retomada significou a renovação do marco jurídico nas relações diplomáticas. Com isso, assinamos memorandos para consultas e a primeira reunião ocorreu também no mês passado - revela Sérgio Moreira Lima, acrescentando que em diplomacia a freqüência dos contatos é essencial. - É bom para conhecer melhor, ouvir melhor e evitar mal-entendidos.

Completam o pacote um acordo de cooperação aduaneira, já fechado mas ainda não assinado, outro de cooperação na área agrícola - voltado para tecnologias de irrigação com fertilizantes -, um terceiro em Saúde - voltado para fármacos - e um quarto em cooperação industrial.

- Para nós, a troca de tecnologias é muito interessante e se trata de um país disposto a isso. Para se ter uma idéia do que o Brasil pode ganhar, basta ver que, em número de empresas, Israel passou o Canadá na lista da Nasdaq e é o segundo colocado, atrás apenas dos Estados Unidos - atesta.

O vácuo deixado pela súbita saída de cena dopremier Ariel Sharon - com quem esteve pessoalmente algumas vezes - não deve, na visão experiente de Moreira Lima, afetar o relacionamento com o Brasil, tanto político como econômico.

- Ehud Olmert é um político hábil, com credenciais ideológicas e programáticas para levar adiante o projeto de Sharon - analisa, lembrando da visita do atual premier ao país no ano passado, acompanhado de uma delegação com 21 empresários. - Vamos negociar com qualquer um que seja eleito, mas é claro que, em função da proximidade já existente, com Olmert há mais conforto.