Título: Alunos deveriam pagar os estragos
Autor: Patrícia Alencar
Fonte: Jornal do Brasil, 30/01/2006, Brasília, p. D6

Vidros quebrados, paredes destruídas, quadros arrancados da parede, lâmpadas roubadas. Essa é a realidade do Centro de Ensino Fundamental Nº 17, em Ceilândia, que atende 1.300 alunos - de 5ª a 8ª série. A violência na escola nem sempre é fruto de pessoas de fora. Os próprios alunos destroem o local onde estudam. A violência é detectada principalmente na depredação das salas de aula. Neste ano, os estudantes vão começar o ano letivo com a escola, praticamente, em ruína. A secretária da escola, Kátia Ney Alves, afirma que a escola não recebeu recursos verba para reforma. O vandalismo resultou na quebra de equipamentos essenciais para o aprendizado do aluno, como quadros, carteiras, portas, televisões e videocassetes.

- mplantamos quatro câmeras nos corredores da escola na tentativa de amenizar a situação. Mas não teve jeito, a violência contra o patrimônio público continua diariamente. Os alunos não têm consciência que todos os materiais da escola são deles. O pior é que eles depredam o colégio no período de aula e ninguém vê, é tudo muito rápido. Quando a direção é chamada a barbaridade já aconteceu - lamenta a secretária.

Kátia Alves acredita que uma solução para o vandalismo dentro das escolas seriaexigir dos alunos o ressarcimento pelos danos provocados ao patrimônio.

- Nas escolas particulares funciona assim, quem quebra paga. Por que nas escolas públicas não pode ser do mesmo jeito? Só o governo tem responsabilidades? E os outros alunos, como ficam? Hoje, não temos infra-estrutura para oferecer um ensino de qualidade por culpa dos próprios alunos. Essa é a nossa realidade - afirmou Kátia Alves.

Vandalismo - Outro problema que as escolas enfrentam, principalmente as da periferia, é o abandono por parte das famílias. Os educadores reclamam que muitos pais transferem toda a responsabilidade da educação das crianças para a escola. Uma professora do Centro de Ensino Fundamental Nº 306, de Santa Maria, que preferiu o anonimato, afirma que os pais são os grandes culpados pelo vandalismo dentro das escolas.

A educadora enfatiza que hoje as crianças já chegam nas escolas com a mentalidade de destruição. Como os pais ficam omissos nas atitudes dos filhos, eles se sentem livres para fazer o que bem entendem, explica a professora.

- Não entendo como uma criança de 12 anos pode arrancar a porta de um banheiro. Será que eles fazem isso dentro de casa? Os alunos fazem de tudo para não assistir aula. Tem dia que não temos luz porque o quadro de energia foi destruído. Isso é um absurdo. Eles querem medir força com a gente, para mostrar quem manda na escola. Confesso que tem hora que tenho medo de alguns alunos, de 11, 12 anos. Veja a que ponto chegamos - desabafa a professora.

Família - A melhor maneira de combater a violência na escola é abrir as portas à comunidade, afirma a pedagoga Cleide Queiroz Pinheiro. No Centro de Ensino Nº 6, de Sobradinho, onde estuda a aluna Wanessa Silvestre Mendes, o medo de assaltos e agressões acabou. Ano passado, não houve qualquer registro de violência na escola.

- Não tenho dúvida de que a causa disso são eventos que trazem nossa comunidade para a escola, como a Festa das Regiões, da Família, Junina, de Fim de ano. É bom ter os pais perto da gente - diz a pedagoga.

O Centro de Ensino também abriu turmas de artes marciais para os estudantes. Uma atividade que atraiu mais de 1,5 mil pessoas. Entre elas Wanessa, que defende que o exercício ensina o respeito pelo próximo e a disciplina.