Título: Google explica autocensura na China
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Fonte: Jornal do Brasil, 30/01/2006, Internet, p. A21

Sergey Brin, co-fundador do buscador mais popular, diz que é melhor ter alguma informação disponível do que nenhuma

DAVOS, Suíça - Sergey Brin, co-fundador do Google, disse que a decisão da empresa de autocensurar seu buscador chinês segue uma mudança de pensamento sobre qual é a melhor forma de fomentar o fluxo livre de informação.

Na semana passada, o Google declarou que bloquearia temas politicamente sensíveis do seu buscador oficial chinês e que não lançaria serviços de blog e e-mail. As ferramentas se tornaram polêmicas depois que depois que o governo exigiu que Yahoo e Microsoft entregassem mensagens e acabassem com o diário virtual de um possível dissidente.

- Não achava que chegaríamos a isso. Mas cheguei a conclusão de que mais informação é melhor, mesmo que não seja tudo que gostaríamos - afirmou Brin no Fórum Econômico Mundial, em Davos, Suíça.

O mantra corporativo do Google é ''não seja mau'', e define a possibilidade de fazer negócios mantendo a ética na liberdade de fluxo da informação e opinião. O buscador havia negado pedidos anteriores de censura pelas autoridades chinesas, mas teve que capitular para se entrar oficialmente no país.

Com 111 milhões de internautas, a China é o segundo mercado global da internet, atrás dos Estados Unidos.

- Conheço muitas pessoas que estão chateadas com nossa decisão, mas é algo que debatemos durante anos - disse Brin, presidente de Tecnologia do buscador.

Na abertura do portal, o Google oferece busca local, de sites, notícias e imagens. A censura voluntária do Google é aplicada por seus rivais Yahoo e Microsoft, nas operações chinesas, e pelos buscadores locais.

No Fórum Econômico Mundia, em Davos, Suíca, Bill Gates, o todo-poderoso da Microsoft, defendeu a posição do Google. Ele afirmou que ''a internet está prevenindo a ampliação da censura na China''.

- Não há dúvida. A chegada do Google à China é para fazer dinheiro, não para levar a democracia - afirmou JohnPalfrey, autor de um estudo sobre a censura estatal chinesa à internet e professor de Direito na Escola de Harvard, nos EUA.

Brin se defende, citando o portal anterior, em chinês mas operado da Califórnia.

- Na prática, o Google chinês já era censurado nos últimos anos. Não por nós, mas pelo governo, através do firewall nacional. Não é algo que gosto, mas foi uma decisão razoável. Entendo perfeitamente que as pessoas estejam chateadas.

Em cenários diferentes, o Google já havia retirado sites com conteúdo nazista, pedófilo e de violação de direitos autorais de seu buscador francês, alemão e americano, de acordo com as leis locais.

- Esses países europeus exigem tal censura. Os EUA têm a lei Digital MillenniumCopyright Act (DCMA), que regula a proteção de direitos autorais na internet. E todas as nações têm leis para a pornografia infantil.

Mas o presidente de Tecnologia mantém sua confiança no mantra. Brin declarou que se encontrou com empresas, ONGs e diplomatas para estender a ação da Google.org, o braço humanitário da empresa.

- É isso mesmo: ''não faça o mal'' e vai até o ''faça o bem''. Já que temos os recursos, queremos dedicar pelo menos parte deles para esforços filantrópicos.