Título: Latino-americanos ofuscados em Davos
Autor: Rosana Hessel
Fonte: Jornal do Brasil, 30/01/2006, Economia & Negócios, p. A19
Atenções voltadas para China e Índia, que crescem quase 10% ao ano, frustram autoridades da região DAVOS, SUÍÇA - Os países da América Latina chegaram ao fim do Fórum Econômico Mundial ofuscados pela China e a Índia, por não terem registrado o mesmo nível de crescimento dos asiáticos. O evento, que durou cinco dias e foi realizado em Davos, na Suíça, foi encerrado ontem.
Entre autoridades e empresários dos países da região, a frustração com a falta de holofotes era evidente. Durante um jantar em Davos para os latino-americanos presentes ao evento, o diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI), Rodrigo de Rato, em meio às lamentações da falta de holofote para a região, foi enfático ao dizer que os países da região precisam de uma agenda de crescimento.
- As conquistas dos últimos anos precisam se consolidar. E é preciso fazer micro-reformas.
O secretário de energia do México, Fernando Canales, também mostrou frustração.
- Não estamos fazendo o nosso trabalho. Somos uma democracia sem adjetivos - afirmou.
Para o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, tanto Brasil quanto México estão perdendo o momento, embora ofereçam ativos significativos, como a democracia e auto-suficiência de energia.
Para o presidente do Banco Central do Brasil, Henrique Meirelles, não se pode comparar a economia brasileira com a da China e da Índia. Segundo ele, esses países fizeram as reformas necessárias.
- O Brasil cresce de forma consistente, mas ainda estamos fazendo o dever de casa.
Meirelles lembrou que a China vem crescendo há 30 anos seguidos e a Índia investiu fortemente em educação.
- O caminho para o crescimento do Brasil é investimento, no curto prazo, em educação, e, no longo prazo, em infra-estrutura para atrair investimentos.
Apesar de China e Índia terem sido as atrações do fórum, os especialistas concordam que a economia indiana precisa fazer importantes reformas porque o país experimentou um crescimento explosivo da demanda interna que ameaça seus próprios recursos naturais e infra-estruturas.
O ministro das Finanças da Índia, Palaniappan Chidambaram, reconheceu que há sérios gargalos logísticos no país. E que o país investirá em agricultura, manufatura e infra-estrutura para continuar crescendo perto de 10% ao ano.
Na sessão de encerramento do evento, ontem, líderes econômicos e políticos destacaram a necessidade de se transformar as idéias expostas em Davos em ações que resultem em melhorias para a economia global. Também foi pedida cautela em relação ao ''otimismo excessivo'' da economia mundial.
- A liquidez é substancial. Mas isso pode tornar complacentes os responsáveis pelas políticas - alertou Rato, do FMI.
O fórum recebeu apenas 15 chefes de Estado, metade das edições anteriores. Por outro lado, o número de presidentes de empresas - 735 - foi recorde.
Entre os dias 5 e 6 de abril, em São Paulo, ocorrerá uma rodada de encontros para a América Latina do fórum, com o objetivo de identificar as prioridades regionais e desenvolver respostas estratégicas.