Título: Impacto mínimo na bomba
Autor: Silmara Cossolino e Samantha Lima
Fonte: Jornal do Brasil, 12/01/2006, Economia & Negócios, p. A17

Governo e representantes do setor sucroalcooleiro chegaram ontem a um acordo sobre o preço do litro do álcool a ser praticado nas usinas. Em reunião realizada com ministros, na sede do Ministério da Agricultura, os produtores assumiram um compromisso de preços da ordem de R$ 1,05 por litro de álcool carburante - usado em adição à gasolina - , ante R$ 1,08 cobrados até então. Tentativa de segurar a alta do álcool, que já se faz sentir nos índices de inflação, a decisão terá porém efeito limitado, avaliam especialistas, já que derrubará em, no máximo, R$ 0,02 o preço da gasolina vendida no Rio de Janeiro. Para quem abastece com álcool, o impacto será nulo.

O novo patamar do álcool anidro, na prática, é um retorno à cotação de 2003. Naquele ano, foi promovido o último acordo entre governo e produtores, para estabelecer a cotação em R$ 1 por litro de álcool carburante na usina.

Além da redução de preços, outras duas medidas foram anunciadas pelo ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, como forma de evitar o aumento de preços do álcool na época da entressafra. A primeira é uma definição do setor privado que tem a intenção de garantir ao governo brasileiro que os estoques disponíveis de álcool são suficientes para garantir o abastecimento interno e o cumprimento de alguns compromissos de exportação. O setor se comprometeu ainda, caso necessário, a antecipar a moagem de cana de algumas regiões para março.

E tendo em vista evitar oscilações futuras inerentes aos produtos agrícolas, o governo anunciou que irá estudar em conjunto com o setor privado e com a área de distribuição um programa de estocagem do produto, que leve a minimização desses picos para baixo e para cima de preços.

- Penso que diante das circunstâncias que cercam a atividade, isso representou um sacrifício do setor, e para nós, uma satisfação de chegarmos a um acordo positivo para o Brasil e para o setor produtivo e consumidores - comemorou Rodrigues.

O presidente da União Agroindustrial Canavieira do Estado de São Paulo (Unica), Eduardo Pereira de Carvalho, disse que a redução do insumo não causará perdas para o setor. Segundo ele, o preço é resultante de mercado, sendo uma questão de oferta e procura.

- O que podemos dizer é que nossa grande preocupação é abastecer o mercado e existe produto para isso. Não se tratou de uma negociação de troca, mas de um entendimento entre o setor e governo. O acordo foi feito e o que o consumidor poderá saber é que não haverá pressões - disse, referindo-se à alta do preço do álcool.

Carvalho acrescentou ainda que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, mencionou durante a reunião com o setor, que vai propor ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva a redução para zero da alíquota de importação do álcool, que hoje está em 20%. Seria uma forma de pressão sobre os usineiros, já que hoje os produtores brasileiros têm preços mais competitivos do que seus principais concorrentes internacionais, entre eles os Estados Unidos.

O reajuste do álcool foi um dos principais responsáveis pela alta de 0,4% na primeira prévia do IGP-M, divulgado ontem pela Fundação Getulio Vargas.