Título: A decadência do Rio
Autor: Marcelo Medeiros
Fonte: Jornal do Brasil, 30/01/2006, Opiniões, p. A11

A cidade do Rio de Janeiro de 1763 até 1960 foi o centro político e administrativo do Brasil. Em 1889 tornou-se a capital da República até a mudança do governo para Brasília em 1960, quando se transformou no estado da Guanabara. Em 1975 ocorreu a fusão com o Estado do Rio de Janeiro.

Israel Klabin, ex-prefeito do Rio de Janeiro , definiu a fusão como um dos estupros políticos sofridos pela cidade: ''deixar de ser a capital federal e depois ser fusionada ao estado do Rio de Janeiro''.

O Rio vem definhando por falta de recursos e investimentos públicos. O retrocesso econômico atinge duramente os mais pobres . São milhões de cidadãos na baixada fluminense e nas favelas metropolitanas que vivem sem atendimento médico, sem emprego, sem educação por falta de escolas, enfim, sem qualquer esperança.

O candidato Luiz Inácio Lula da Silva (paulista, nascido em Garanhuns - Pernambuco) , que obteve em 2002, 80% dos votos do estado, hoje, na Presidência da República , discrimina o Rio porque a governadora Rosinha Matheus faz oposição ao governo federal e é mulher do pré-candidato a presidente pelo PMDB, Anthony Garotinho.

Lula, por interesses políticos, chutou o estado do Rio para o sétimo lugar como recebedor de investimentos federais. Atrás, inclusive, de vários outros estados governados pela oposição. ''Por pura mesquinhez'' reclama a governadora.

A região metropolitana do Rio com onze milhões de pessoas em dezessete municípios, que formam uma cidade só, é a segunda região mais industrializada do país, e talvez, a primeira em desigualdade social, desemprego, criminalidade, favelização crescente, falta de hospitais, recursos médicos, escolas e saneamento.

O Rio de Janeiro é o segundo estado em arrecadação de impostos federais. A previsão de gasto dos R$ 13,5 bilhões de restos a pagar do Orçamento da União do ano passado, destina ao Rio somente R$ 394,8 milhões. Minas Gerais receberá R$ 867,4 milhões; valor 119% maior.

Desses recursos, o Ministério dos Transportes vai investir R$ 3,3 bilhões. Destinou ao Rio só R$ 32 milhões, o que corresponde a 0.9% do total.

Para o economista Paulo Rabello de Castro: '' Duas ou três decisões federais (apenas) serão suficientes para repor o Rio no ranking das dez áreas metropolitanas de maior interesse no planeta''.

O que não acontecerá, de acordo com a afirmação do deputado Eduardo Paes: ''O governo do Lula é um governo com a cabeça completamente distanciada do Rio. Quanto mais puder prejudicar o Rio, mais ele prejudicará''.

O eleitorado do Rio de Janeiro tem que se vingar do PT nas próximas eleições de 2006. E tudo indica que vai castigá-lo. O índice de rejeição do PT, nas últimas eleições, era de 16%. Hoje esse índice subiu para 23,1%, conforme recente pesquisa realizada pelo IBPS-JB.

Segundo o Instituto Brasileiro de Pesquisa Social se a eleição fosse hoje o PT teria 2,1 milhões de votos, o que significa, com a atualização do eleitorado, menos 1,5 milhão de votos do que em 2002. Mesmo assim ainda é muito voto para quem desprezou o Rio por três anos.

A degradação do Rio levou o JB Online, nas comemorações dos 440 anos de fundação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, no dia 10 de março, a fazer a seguinte pergunta: '' A expressão Cidade Maravilhosa ainda é válida?''

Responderam sim 76% dos votantes e 24% não. Os que votaram não, em sua grande maioria, atribuem à falta de segurança: o desencanto pelo Rio.

Considerando que o Rio não planta nem refina tóxico, não fabrica armas, que chegam por contrabando ou roubadas da forças armadas, e que a fiscalização das fronteiras do Estado é competência da Polícia Federal, fica evidente a grande parcela de responsabilidade do governo Lula pela decadência da Cidade Maravilhosa.