Título: Dantas: CPI retarda representação ao Supremo
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 13/01/2006, País, p. A4

A CPI dos Correios já tem pronta, há mais de 30 dias, a segunda representação que será encaminhada à ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Ellen Gracie, que poderá dar acesso ao disco rígido do computador do Banco Opportunity, de Daniel Dantas. O rascunho do documento refere-se a ''promiscuidade'' do Grupo Opportunity e empresas administradas pelo banqueiro. Parlamentares da própria comissão, no entanto, estranham que o documento até hoje não tenha sido enviado ao STF pela presidência da CPI.

- A Comissão tem o dever de apresentar uma resposta eficiente desta parte da investigação, no que diz respeito ao Dantas - diz o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).

O tucano acha que não há mais justificativa para que não sejam tomadas providências para acessar o computador de Dantas. Depois de procurado no início. O presidente da CPI dos Correios, Delcídio Amaral (PT-MS), anunciou que ainda hoje analisará a segunda representação a ser enviada ao STF.

- Nosso embasamento era rudimentar. O primeiro trabalho não respondia especificamente às demandas necessárias para que o STF tivesse entendimento claro daquilo que a CPI entendia como importante - justifica Delcídio referindo-se ao tempo gasto para o envio das informações.

O novo documento que a comissão deve enviar ao STF é mais resumido que o primeiro. A CPI entregou no ano passado ao tribunal uma petição demonstrando o que chamaram de ''Esquema Opportunity''. Mas a ministra Ellen Gracie pediu que a CPI indicasse vínculos do Banco Opportunity com as empresas de Marcos Valério, o suposto operador do mensalão. As telefônicas geridas pelo Opportunity aplicaram R 150 milhões nas empresas de Valério e Dantas é suspeito de ser o maior financiador privado do mensalão.

A CPI argumentará ao STF que existem fortes indícios de que o Grupo Opportunity manteve conexão com a rede de corrupção do Valerioduto. A proximidade do Grupo Opportunity, segundo a área técnica do Senado, pode ser exemplificada na gestão das telefônicas Amazônia Celular, Telemig Celular e Brasil Telecom, empresas administradas ''como se fossem acessórios'' do grupo de Dantas.

Para tentar comprovar que as empresas são acessórios do Opportunity, a CPI vai anexar na segunda representação uma auditoria feita no ano passado pela nova diretoria da Brasil Telecom. A auditoria demonstrou irregularidades da administração do Opportunity, que causaram R$ 361 milhões em prejuízos para a companhia. A nova diretoria da Brasil Telecom pediu investigação junto à Comissão de Valores Imobiliários sobre as irregularidades.

Entre as irregularidades enumeradas, a representação faz referência às diversas pessoas que integravam a estrutura de comando do Opportunity e que recebiam salários da Brasil Telecom. Uma destas pessoas, segundo os técnicos da CPI, é a advogada pessoal de Daniel Dantas, que acompanhou o banqueiro durante a sessão conjunta das comissões de inquérito dos Correios e do Mensalão no Congresso.

Ainda na lista das supostas fraudes, os técnicos da Advocacia do Senado enumeram a contratação de serviços de terceiros mediante remuneração da Brasil Telecom. Documentos anexados na representação comprovam que o aluguel da sede do Opportunity era pago pela Brasil Telecom.