Título: Guerra silenciosa em torno do relatório da CPI dos Correios
Autor: Daniel Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 30/01/2006, País, p. A2

Oposição e governistas buscam pacto para que conclusões sejam mais amenas

BRASÍLIA - A investigação dos esquemas de corrupção na administração pública já não é mais a prioridade da CPI dos Correios. Nos bastidores do Congresso, parlamentares aliados ao governo e da oposição travam uma guerra silenciosa em torno do relatório final que será apresentado em meados de março. No meio do tiroteio, figura o presidente da comissão, senador Delcídio Amaral (PT-MS), que está empenhado em costurar entre todos os partidos um acordo que viabilize a votação de um único documento conclusivo. Do PT ao PSDB, passando pelas legendas coadjuvantes, o discurso é favorável a um pacto suprapartidário. A promessa é de que, se for fechado, o ''acordo do bem'' - expressão cunhada pelo deputado tucano Gustavo Fruet (PR), sub-relator de movimentação financeira - não resultará no acobertamento de malfeitorias. O problema para os parlamentares está na quantidade de arestas por aparar, que podem levar à apresentação de um relatório paralelo e jogar a CPI dos Correios no limbo das comissões fracassadas.

Uma delas é o tratamento a ser dispensado a Luiz Inácio Lula da Silva. Na quarta-feira, o presidente cobrou de Delcídio explicações sobre a intenção do relator da CPI dos Correios, o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), de citá-lo no relatório final. Em gesto coordenado, a bancada do PT criticou o relator e ameaçou apresentar um relatório paralelo. Apesar de considerar Lula ''negligente'' em relação aos desvios praticados no governo, Serraglio admite que a tendência é mencionar o presidente no documento conclusivo sem fazer juízo de valor e sem pedir o seu indiciamento.

Trata-se de um meio termo, que ainda precisa ser digerido por governistas e oposicionistas. O líder da minoria no Senado, José Jorge (PFL-PE), considera ''óbvio'' Serraglio dizer que Lula deveria ter sido mais ''vigilante''. Mas reconhece que a mera menção ao presidente, sem juízo de valor, pode ser aceita por seu partido.

- Os fatos são gravíssimos, não precisam de adjetivação - afirma Jorge.

Já o deputado Gustavo Fruet defende uma discussão sobre possíveis desdobramentos de uma menção a Lula.

- Não é uma questão de oposição. Afinal, é algo que nasceu no governo dele, envolvendo pessoas ligadas a ele, e isso tem de ser bem avaliado - declara Fruet.

Por enquanto, Serraglio afirma que não pensa no pedido de indiciamento de Lula. Tal possibilidade é rechaçada pelo PT, assim como a simples citação do presidente.

- Em hipótese alguma o partido aceitará a citação a Lula. Esse tipo de parcialidade é inadmissível, porque não é acompanhada de provas - diz a senadora petista Ideli Salvatti (SC).

Delcídio se recusa a falar da situação do presidente Lula e de outros casos específicos. Para garantir a costura do acordo suprapartidário, o presidente da comissão está conversando com as lideranças e defendendo a tese de que todos os partidos têm de sangrar um pouco.

A oposição já aceitou a inclusão no relatório final do senador tucano Eduardo Azeredo (PSDB-MG), que praticou o crime de caixa dois nas eleições de 1998 com a ajuda dopublicitário Marcos Valério.

- A questão é qual será o apontamento - afirma Fruet.

Segundo o deputado, um pedido de indiciamento de Azeredo pode resultar em nada, porque o crime já teria prescrito. O PT tem entendimento diferente. Além disso, quer mais cortes na carne dos tucanos. O desejo está amparado no discurso de que Marcos Valério é uma invenção tucana. Por isso, o PSDB também tem de arcar com o desgaste perante a sociedade.