Título: Manifestantes vão ao Lago Sul
Autor: Lígia Maria
Fonte: Jornal do Brasil, 20/01/2006, Brasília, p. D8

Militantes contra preços de passagem protestam diante da casa de senador Os representantes do Movimentos Passe Livre (MPL), dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e dos Trabalhadores Desempregados (MTD) realizaram ontem uma manifestação no Lago Sul, em frente à casa do senador Valmir Amaral, do Grupo Amaral Transportes, em protesto contra o reajuste das passagens no Distrito Federal. Os líderes dos movimentos acreditam que o transporte público deve ser tratada como questão social. Para isso, propõem que o reajuste seja revisto, a partir do que chamam de audiência pública: uma reunião em que a Secretaria dos Transportes ouça representantes da comunidade. A proposta faz sentido, diz o professor Roberto Piscitelli, da Faculdade de Economia da Universidade de Brasília (UnB). Segundo ele, o transporte público não pode ser tratado apenas como questão econômica.

O número de manifestantes foi pequeno, cerca de 30 pessoas. Mesmo assim a estudante Fernanda Ferreira, do Movimento Passe Livre, defende novas ações para promover o boicote ao transporte público no DF, de forma constante, ainda que pontual. Para ela, a justificativa do protesto chama mais atenção do que o número de pessoas que consiga reunir.

- Pequenas e frequentes manifestações fazem parte da nossa estratégia. Com a ação continuada, acreditamos que a população vai se incorporar ao movimento e boicotar esse reajuste - explicou.

Para José Maria Melo, do Movimento dos Trabalhadores Desempregados, o aumento na tarifa dificultará o deslocamento dos desempregados que procuram trabalho. Ele fala ainda de outra consequência: aumento do desemprego nas camadas mais pobres da sociedade.

- Ninguém vai querer manter uma empregada doméstica com um custo adicional de R$ 250 mensais apenas com transporte - disse.

Rafael Litvin, do Movimento Sem Terra, a alta tarifa dos transporte público exclui o trabalhador rural nos centros urbanos. Isso prejudica, segundo ele, as relações de trabalho e de crescimento no campo.

- É enganoso falar em qualidade de vida ao isolar o trabalhador rural - avaliou.

Os manifestantes comentaram que, desde o início de janeiro tentam uma audiência com Mauro Cateb, secretário de Transportes. No entanto, a assessoria imprensa de Cateb informou que ele não recebeu pedido algum este ano. Disse ainda que o secretário está aberto ao diálogo.

Questão social - O subsídio dos transportes para as classes mais pobres - como trabalhadores rurais, domésticos e desempregados - é missão do governo, opina o professor Piscitelli. Seu argumento é o de que tarifas e reajustes altos não podem ser vistos apenas sob o aspecto do econômico - custo e serviço. De acordo com ele, os preços altos têm um efeito social a ser considerado, pois implicam desemprego e marginalização dos mais pobres.

De acordo com ele, se essa realidade não for confrontada, haverá cada vez mais pessoas marginalizadas.

- Essa é uma marginalização terrível, que não cria alternativas. O governo precisa ter a sensibilidade de perceber que a tarifa de R$ 3 é elevada para as pessoas que dependem essencialmente de ônibus. Deve avaliar se desempregados e trabalhadores que sobrevivem com o salário mínimo podem pagar essa quantia - recomendou.