Título: Carga contra juro alto
Autor: Fernanda Rocha e Sabrina Lorenzi
Fonte: Jornal do Brasil, 13/01/2006, Economia & Negócios, p. A17

O resultado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2005 (5,69%), divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aumenta a carga de motivos para o BC acelerar o ritmo de redução da taxa de juros (Selic) este ano, prevêem especialistas. A taxa foi a mais baixa desde 1998 (1,65%), último ano em que vigorou a taxa de câmbio fixo. A análise da evolução dos preços evidencia ainda o peso das tarifas na inflação, o que reforça a discussão sobre a ineficácia da política monetária.

- O fato de o IPCA ter apresentado um bom resultado em 2005 e indicado expectativa de desaceleração em 2006 indica que a taxa de juros pode cair bem mais rápida e até além do previsto - afirma o presidente do Conselho Regional de Economia de São Paulo (Corecon) e ex-coordenador do IPC/Fipe, Heron do Carmo.

Para ele, a Selic pode chegar a 14% no fim do ano, abaixo da previsão de 15% do mercado. Mas o ritmo só deverá ser acelerado na segunda reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do ano, em março, em sua opinião.

- Na reunião da próxima semana, o ritmo de queda deve permanecer em 0,5 ponto percentual. Para as próximas duas reuniões acredito em uma redução maior, de 0,75 ponto.

A radiografia da inflação em 2005 dá munição aos críticos da política monetária. Os preços administrados (tarifas) foram as principais pressões do índice no ano. Como têm reajustes definidos por contratos ou decisões do executivo, esses itens não têm a demanda reprimida pela alta de juros e, portanto, são imunes aos efeitos das decisões do Copom.

Energia elétrica (8,03%), transportes (7,16%), telefone fixo (6,68%) e mensalidades escolares (7,16%) tiveram alta além da inflação. As tarifas têm peso de 46% no IPCA.

Da taxa de 5,69%, os administrados foram responsáveis por 2,65 pontos percentuais. Em 2004, esses itens representaram 3,03 pontos percentuais da taxa de 7,6% do IPCA, o que correspondeu a 39% do valor do índice.

- Os itens administrados têm grande peso dentro do orçamento do consumidor, por isso tiveram grande influência no resultado do índice de 2005 - explicou a gerente do Sistema de Índices de Preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos.

O resultado de 2005 ficou baixo graças à forte queda no item alimentos. O segmento registrou alta de apenas 1,99% no ano. Dólar em queda e safra contribuíram para o recuo dos preços nesse grupo. Em dezembro, o IPCA acumulou alta de 0,36%, ante 0,55% em novembro.

Para Eulina, as maiores ameaças aos preços nesse início de ano são aumentos de tarifas, mais especificamente nas passagens de ônibus e no serviço de água e esgoto em algumas regiões. Outra pressão virá dos combustíveis, devido à alta no preço do álcool.