Título: PDT suspende deputado Herrmann Neto
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Fonte: Jornal do Brasil, 14/01/2006, País, p. A3

A direção nacional do PDT determinou a suspensão da sua filiação do deputado federal João Herrmann Neto (SP), após as denúncias de que o parlamentar teria se beneficiado de pagamentos mensais de uma empresa de aviação comercial por um período de dois anos. A quebra do sigilo bancário da Beta (Brazilian Express Transportes Aéreos), determinada pela CPI dos Correios para apurar suspeita de irregularidades em contratos fechados pela empresa com a estatal, indicou 25 pagamentos mensais, ao longo de dois anos, para uma conta bancária aberta em nome de João Herrmann Neto. O total acumulado atingiu R$ 79 mil.

De acordo com a CPI, os depósitos começaram em R$ 3 mil, em 2003, e pararam pouco antes do escândalo dos Correios, quando já tinham subido para R$ 3,8 mil. O dinheiro era debitado de uma conta da empresa Beta no banco Safra, em São Paulo, e era creditado na conta aberta em nome do deputado no Citibank.

O relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), afirmou que os R$ 79 mil recebidos pelo deputado João Herrmann Neto pode ser um pagamento em troca de vantagens na estatal.

- Pode ser uma fonte de alimentação de cooptados, tendo em vista que as linhas aéreas apresentaram superfaturamento e os dados já enviados pelos bancos não correspondem nem a 60% do total - disse Serraglio, que pretende ir ao Banco Central na próxima semana reclamar que os bancos Real, Boston e Safra não estariam colaborando com a CPI.

O sub-relator de contratos, deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), que investiga esse caso, estava no interior de São Paulo ontem incomunicável. Nota divulgada pela assessoria de imprensa do petista afirma que ele analisará os novos documentos recebidos pela CPI para o prosseguimento das investigações.

Cardozo já tinha essa informação desde o dia 30 de novembro, quando o ex-presidente da Beta Antônio Augusto Morato prestou depoimento a portas fechadas.

Relatório preliminar da CPI apontou um superfaturamento de R$ 64 milhões nos contratos da Skymaster e da Beta, que teriam um ''conluio'' nos Correios. As empresas negam. Herrmann trocou o PPS pelo PDT em 2004. Até janeiro daquele ano, o Ministério das Comunicações e os Correios eram controlados pelo PDT.

O deputado apresentou seis emendas, em 2001, ao projeto de lei que criou a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).

Em uma delas, ele cria o conselho de gestão da agência, de caráter consultivo, no qual os operadores de serviços de transporte têm assento, como o objetivo de ''fornecer à diretoria da Anac subsídios para estabelecer os princípios, as diretrizes e o plano de ação da autarquia''. Outras duas propostas restringem a atuação de empresas estrangeiras no setor.

O presidente do PDT Carlos Lupi e o secretário nacional do partido Manoel Dias divulgaram ontem em nota oficial a suspensão de Herrmann: ''A Direção Nacional do Partido Democrático Trabalhista (PDT), fiel às suas origens e práticas políticas de combate constante a qualquer ato de improbidade, corrupção, ou desvio das boas funções públicas, em cumprimento à deliberação anteriormente adotada, e diante do noticiário da imprensa nacional sobre indícios de corrupção relacionados à conhecida CPI dos Correios, comunica oficialmente que resolveu suspender a filiação do deputado federal João Herrmann, até à completa elucidação dos fatos, garantindo-lhe o amplo direito de defesa, como é da boa prática republicana e democrática''. (F.P)