Título: Vítima do fogo amigo de subordinado
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 14/01/2006, Economia & Negócios, p. A19

Depois dos recentes embates com a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, se viu novamente vítima do fogo amigo devido à política monetária. Desta vez, porém, a saia-justa foi provocada por um subordinado. O ministro se viu obrigado, ontem, a emitir uma nota desautorizando as declarações do secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, que criticou publicamente a expectativa do Banco Central para os juros.

Pela nota, o ministro da Fazenda nega a existência de desconforto entre os integrantes da pasta em virtude da política de juros altos empreendida pelo Banco Central, como Levy teria deixado transparecer, segundo o jornal Valor Econômico.

''Não há desconforto no Ministério da Fazenda com relação à política de juros praticada pelo Banco Central do Brasil. O ministro Palocci tem manifestado publicamente, por diversas ocasiões, seu total apoio à política monetária que vem sendo praticada pelo Banco Central do Brasil, que considera apropriada'', diz a nota.

Tradicionalmente integrante do grupo de defensores da política de juros altos empreendida pelo BC, Levy teria questionado as expectativas para a taxa de juros do Banco Central, que estão em 15% ao ano. ''Por que as expectativas para a Selic são colossais (...) se os analistas acham que a inflação estará em 4,5%, as contas correntes continuarão superavitárias (...) e o crescimento econômico será de 3,5%?'', teria questionado.

Levy teria criticado o ritmo lento de redução na taxa Selic, hoje em 18% ao ano, e afirmado não ver razões para que os cortes não sejam mais rápidos.

As críticas ao BC se intensificaram nos últimos meses devido à desaceleração da economia brasileira. No terceiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) encolheu 1,2%. Em outubro e novembro, ao invés de a economia se recuperar, como prometia a equipe econômica, não houve sinais de reaquecimento.

Na nota, entretanto, Palocci também desautorizou declarações públicas de membros de sua equipe sobre assuntos que não são de sua competência. Como secretário do Tesouro, Levy é responsável por gerir as contas públicas, inclusive a dívida mobiliária - que somente em 2005 cresceu R$ 150 bilhões, em grande parte devido à alta da taxa de juros.

''O secretário Levy esclareceu ao ministro Palocci que não expressou ao citado jornal opiniões sobre política monetária. De qualquer forma, o ministro Palocci desautoriza e desaconselha quaisquer manifestações públicas de membros de sua equipe sobre temas fora da competência funcional dos órgãos que dirigem.''

Joaquim Levy não comentou a nota divulgada pelo Ministério da Fazenda.

Com Folhapress