Título: A doença que vence a cura
Autor: Waleska Borges
Fonte: Jornal do Brasil, 14/01/2006, Rio, p. A13

Depois de dois anos sem registrar casos de morte por dengue, o município do Rio voltou a ser assombrado pela doença. O aposentado Antônio Jesus de Assis, 52 anos, foi a primeira vítima do verão. Ele morreu no dia 23 de dezembro passado no Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca. Os resultados dos exames feitos na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) apontaram dengue do tipo 3. O aposentado era morador da Zona Oeste. Em dezembro, a região registrou 257 casos de dengue. Há suspeitas de que uma moradora de Jacarepaguá seria a segunda vítima da doença. Morador de Vargem Pequena, o aposentado trabalhava em um loteamento no Recreio dos Bandeirantes quando começou a passar mal. Levado para um posto de saúde, recebeu os primeiros atendimentos. Segundo Selma Maria Batista de Carvalho, cunhada do aposentado, ele foi mantido por quase duas horas na ambulância dos bombeiros a espera por atendimento no Lourenço Jorge. De acordo com o vereador Carlos Eduardo de Matos (PPS), que recebeu a denúncia dos familiares, Assis sentia fortes dores nas pernas, no abdômen, além de febre, pressão baixa e sangramento.

- O Antônio estava aposentado, mas como era época do Natal, ele resolveu trabalhar com um vizinho numa obra para comprar presentes para seus filhos - lamenta Selma.

O aposentado foi internado por volta das 15h e morreu quatro horas depois. Segundo Selma, por falta de profissionais para fazer a autópsia, os médicos do hospital apontaram a causa da morte como indeterminada no atestado de óbito. Entretanto, a família autorizou a retirada de um pedaço do fígado de Assis para fazer exames e constatar a causa da morte.

Revoltada, a família acredita que Assis foi infectado pelo vírus transmitido pela picada do Aedes aegypti. Segundo Selma, apesar do mato e da água parada no bairro onde o aposentado morava, os agentes da Secretaria Municipal de Saúde nunca estiveram na região:

- Alguns dias depois que ele morreu, os agentes estiveram aqui e jogaram pozinho na casa, mas o mato e água parada está atrás. Chegaram tarde demais, vamos processar o estado.

Este ano, segundo dados da SMS, 27 das 30 pessoas que ficaram doentes na cidade moram na Zona Oeste. Na região, há sete moradores internados com sintomas da dengue. Segundo o entomologista Anthony Érico Guimarães, da Fundação Instituto Oswaldo Cruz, os casos de dengue mais brandos têm sintomas semelhantes aos de um resfriado, e os mais graves, que se desenvolvem para a dengue hemorrágica, costumam apresentar sintomas como fortes dores no abdômen e manchas vermelhas no corpo. De acordo com o entomologista, apesar da epidemia de 2002, muitas pessoas não têm anticorpos contra o vírus tipo 3.

- A taxa de infestação do mosquito ainda continua alta. Nem os governantes e nem a população tomaram as providências necessárias contra os criadouros do mosquito. Se aparecer o tipo 4 (ainda não constatado no Brasil) milhares de pessoas serão infectadas - alerta Guimarães.

No início de dezembro, São Gonçalo também registrou uma morte por dengue. Desde a epidemia de 2002, quando foram registrados 65 óbitos, a doença não causava mortes no município. No entanto, segundo lembra Carlos Eduardo, a taxa de infestação do mosquito no Rio é de 7, 2%. O recomendável pelo Ministério da Saúde é de 1%. A SMS nega que tenha havido outra morte por dengue na cidade. A pasta garante que os agentes fazem inspeções nos bairros com intervalos de 15 a 60 dias.