Título: Orçamento antecipa briga eleitoral
Autor: Eruza Rodrigues
Fonte: Jornal do Brasil, 14/01/2006, Brasilia, p. D3

A menos de nove meses das eleições, os integrantes do Executivo e do Legislativo travam, nos bastidores, uma briga para consolidar uma fatia do eleitorado brasiliense. Os primeiros sinais sobre a intensa disputa para a sucessão ao Palácio do Buriti e aos cargos de deputado federal e distrital veio à tona esta semana, quando o governador Joaquim Roriz disse que o Orçamento de 2006 foi ''mutilado'' pelos parlamentares. A intenção de vetar as modificações provocou um mal-estar na Câmara Legislativa. Para o cientista político David Fleischer, o imbróglio é um sinal de que os distritais querem coisas para conseguir a reeleição e o governador tem outros planos, visto que deixa o governo do DF para concorrer provavelmente ao Senado. O embate, segundo o professor, é inevitável porque os interesses são conflitantes e compara a situação local ao que o PFL e PSDB estão tentando fazer no Congresso Nacional: impedir a aprovação do Orçamento para desgastar a imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

- O problema no DF é mais direto, mas a disputa é semelhante, apesar da confusão ser causada por parlamentares da base governista. Aqui o governador tem um trunfo nas mãos. Ele pode impedir a liberação das emendas individuais e prejudicar a reeleição dos distritais - avaliou Fleischer.

Ciúmes - Mesmo que o diálogo com o governador Roriz, previsto para a próxima semana, avance, será difícil recompor a base de governo, que está insatisfeita com a atuação de parte do primeiro e segundo escalões do GDF. Alguns distritais se queixam de que os supostos candidatos estão usando o cargo público de olho nas urnas. O quadro político na Câmara Legislativa também sofrerá alterações com a desincompatibilização dos secretários que irão disputar as eleições, no final de março, e exercem mandatos na Casa.

- Houve um jogo político muito forte na questão do Orçamento, que a oposição não participou diretamente. Nós aprovamos a proposta que veio da Comissão de Economia, Orçamento e Finanças (Ceof), cujo presidente é da base governista. O governador sai em março e o governo que entra será feito entre PSDB e PFL. Como Roriz deixará o cargo, o PMDB perderá força - enfatizou o vice-presidente da Casa, Chico Floresta (PT).

O presidente da Ceof e relator do Orçamento, Leonardo Prudente (PFL), nega que que o contigenciamento tenha cunho político e partidário. Mas admite que os ânimos ficaram mais acirrados na Câmara, quando a vice-governadora Maria de Lourdes Abadia (PSDB) assumir o Palácio do Buriti em abril e os interesses forem colocados em jogo.

- Tudo vai depender da manutenção ou não da verticalização e das alianças. Se o PFL, PMDB e PSDB lançaram candidatos próprios a situação ficará muito complicada - reconheceu o pefelista.