Título: ''Eu tenho história no PMDB¿
Autor: Juliana Rocha
Fonte: Jornal do Brasil, 15/01/2006, País, p. A2

Conhecido como um sonhador, o azarão das eleições de 2002 no Rio Grande do Sul, o governador do estado, Germano Rigotto, agora almeja a Presidência da República. No próximo dia 18, ele oficializa seu nome na prévia do PMDB, que irá definir o candidato do partido. Ele diz, na entrevista a seguir, que seu grande trunfo é ser um antigo militante peemedebista e não enfrentar resistência interna: uma estocada no único pré-candidato do partido até agora, o ex-governador do Rio, Anthony Garotinho, recém-chegado no PMDB, que sofre com a desconfiança de lideranças temerárias da infidelidade partidária. Rigotto fala de suas realizações para conquistar as bases do PMDB, como o saneamento das contas do estado. Na verdade, ele é conhecido como o governador que não conseguiu eliminar a herança maldita do rombo deixado pelo PT. Tanto que o Orçamento de 2006, aprovado pela Assembléia Legislativa, prevê um déficit de R$ 2,2 bilhões.

Como o senhor avalia o adiamento das prévias do PMDB?

- Não faz diferença se o adiamento for para 19 de março o primeiro turno e 26 o segundo. Minha preocupação é que não passe de março, se não, eu e os outros governadores perdemos o prazo de desincompatibilização. Espero que Roberto Requião (Paraná), Jarbas Vasconcelos (Pernambuco) e Joaquim Roriz (Brasília) também se inscrevam. Nelson Jobim (presidente do STF) disse que não vai para disputa.

Como seria uma chapa formada pelo senhor e por Garotinho?

- Mais do que formar chapa, o que ganhar tem que ter o apoio do outro. Até porque temos que buscar coligações e, portanto, dar a vice-presidência para um futuro aliado. Mas eu e Garotinho temos trabalhado juntos. Sempre tocamos idéia sobre a estratégia para garantir as prévias.

Ainda existe o risco de o partido sair como vice na chapa de Lula?

- Não. A cada dia que passa, se fortalece a tese de que o PMDB deve sair com candidatura própria como a terceira via. Quem não quer isso, está se enfraquecendo no partido. Em 2002, o partido desistiu da candidatura própria após a convenção e entrou na chapa do candidato do PSDB, com a Rita Camata como vice. Agora é diferente porque faremos a prévia que mobilizará 20 mil delegados do partido. A decisão desta consulta será irreversível.

Qual a sua expectativa?

-Vou oficializar a minha inscrição como pré-candidato na quarta-feira, em Brasília. Estarão presentes o presidente do partido, Michel Temer, integrantes da Executiva, lideranças, parlamentares Será uma cerimônia simples. Falei até com Garotinho e ele me disse vai.

Com que apoios o senhor espera contar na eleição interna do partido?

- Não me preocupo em quem estará comigo porque não tenho resistência dentro do partido. O tempo irá determinar quem apóia quem. O que posso dizer é que tenho facilidade dentro e fora do PMDB.

O senhor não citaria nomes que trabalham pela sua candidatura?

- Quando eu oficializar minha pré-candidatura, meus apoiadores vão começar a se manifestar. Por enquanto, prefiro não citar nomes. Não quero comprometer ninguém que ainda não anunciou que me apóia. Mas aqui no Sul, os apoios são óbvios. Conto com todo o PMDB no estado, com o senador Pedro Simon, e com o governador de Santa Catarina, Luiz Henrique.

Qual será sua estratégia para vencer as prévias?

-Tenho que elogiar o forte trabalho de Garotinho. Ele tem percorrido todos os diretórios do PMDB, porque teve tempo e infra-estrutura. Infelizmente, não terei tempo. Tenho que governar o Rio Grande do Sul, mas vou aproveitar os fins de semana para fazer contato com as lideranças e tirar 20 ou 25 dias de férias mais próximo das prévias para fazer campanha a nível nacional.

O senhor admite que Garotinho está em vantagem?

- Não me preocupo com isso. Tenho convicção de que meu trabalho dentro do PMDB vai me ajudar muito. Já fui líder do partido na Câmara e sou militante antigo. Comecei no MDB. Mas quero deixar claro que não existe rivalidade entre nós. Estamos trabalhando juntos. Ele teve um papel fundamental para que as prévias do partido aconteçam.

O senhor fala muito de Garotinho como aliado, mas vão participar de uma disputa em breve.

- Garotinho tem a vantagem de sair-se melhor nas pesquisas porque já disputou uma eleição presidencial. Meu nome ainda não é conhecido nacionalmente. Conto com 3% ou 4% das intenções de votos. Mas tenho condições de crescer. Posso aproveitar o espaço gratuito no rádio e TV, o que vai me dar visibilidade. Sei que posso ser a grande alternativa.

E quais são as suas vantagens em relação ao Garotinho?

- Eu tenho história dentro do PMDB. Não me preocupo com quem vai concorrer comigo. Sou o candidato que cresce sem rejeição nenhuma. Só tenho elogios, seja na minha gestão no parlamento, seja no governo do Rio Grande do Sul. Eu tenho um percentual pequeno nas intenções de voto, mas foi assim quando ganhei o governo do estado em 2002. Tarso Genro (PT) e Antonio Brito (PPS) tinham 38% das intenções de voto no início da campanha e eu tinha 2%. Cresci tanto que por pouco não levei já no primeiro.

O senhor imagina que essa história vai se repetir a nível nacional?

- Claro que sim. Em 2002, jornalistas e cientistas políticos diziam ser impossível. Tenho que acreditar e fazer os olhos dos peemedebistas brilharem quando eu mostrar minhas realizações no governo do estado. Peguei o Rio Grande do Sul em uma situação financeira terrível e hoje as contas estão saneadas. Mesmo com o déficit financeiro que encontrei e com a estiagem que prejudicou a agricultura, consegui investir e fazer obras. Meu índice de aprovação (pessoal) é de 61%. E o eleitor gaúcho não é como no Rio ou em São Paulo, ele cobra mesmo. A imprensa daqui é terrível.

Qual é o seu plano B se não vencer as prévias?

- Se eu disser que não vou ganhar, estou me enfraquecendo. Não falo em plano B. E também sou contra a reeleição. Mas é claro que se não for candidato à Presidência, vai haver muita pressão para eu me candidatar ao governo do estado. Afinal, sou o grande favorito na disputa.

O senhor já pensa em alianças?

- Aqui no Rio Grande do Sul já se especula que o PDT e o PCB estariam do nosso lado a nível nacional. Temos condições de formar uma coligação de centro-esquerda com o PDT e com o PPS, porque ambos os partidos têm excelentes nomes: Roberto Freire no PPS e os senadores Cristovam Buarque e Jefferson Peres no PDT. Eu sei que ainda é cedo para fecharmos alianças, mas temos condições de formar uma coligação de centro-esquerda. Ser uma terceira via na eleição presidencial contra o PT e o PSDB.