Título: Reprodução assistida: ciência aliada do sonho
Autor: Luciana Navarro
Fonte: Jornal do Brasil, 15/01/2006, Brasília, p. D4

Tudo por um bebê. É o que promete o médico Roger Abdelmassih, um dos maiores especialistas em reprodução assistida da América Latina. A infertilidade atinge cerca de 20% dos casais brasileiros e, muitas vezes, frustra o sonho de homens e mulheres que desejam ter um filho. Mas, em grande parte dos casos, o problema de não conseguir ter um bebê tem solução. Considerado pelos casais que ajuda a engravidar como um representante de Deus na Terra, Abdelmassih é apaixonado pelo que faz. Com alegria e bom humor o médico atende cerca de 40 pacientes por dia e realiza em torno de 1,6 mil fertilizações in vitro por ano. No Brasil, levando em conta todas as clínicas, 10 mil procedimentos desse tipo são feitos anualmente. Na clínica de Abdelmassih, em São Paulo, a técnica garante o nascimento de, aproximadamente, 55 bebês a cada mês.

Apesar da marca de quase cinco mil bebês trazidos ao mundo graças às técnicas aplicadas em sua clínica, o médico não se dá por satisfeito. Segundo ele, o nascimento de mais de 50 bebês por mês é gratificante, mas ainda há muito o que ser feito para garantir a satisfação e realização pessoal dos casais que buscam as técnicas de reprodução assistida.

- A cada 100 mulheres, apenas 36 realizam o sonho de ser mãe. Ainda há muito para ser feito - afirma o médico, de 62 anos e 33 de experiência em reprodução humana.

Frustração - A busca por um filho é comum entre casais jovens e a cobrança é cada vez maior conforme o tempo passa e as crianças não chegam. Segundo Abdelmassih, a frustração, normalmente, é maior na mulher. Quanto mais ela se cobra por não engravidar, mais estressada pode ficar, o que pode dificultar ainda mais uma gravidez natural.

- O estresse judia muito da mulher e bloqueia a ação da hipófise sobre o ovário. Na fertilização o estresse não atrapalha efetivamente - explica o médico.

A servidora pública Maria de Fátima Nunes, 39 anos, viveu isso na pele. Durante nove anos, tentou engravidar com várias técnicas de reprodução assistida. Ela e o marido, Paulo Henrique Nunes, 37, tentaram engravidar 12 vezes, com diversas técnicas. A gravidez do filho Gustavo, hoje com três anos, veio apenas na 13ª tentativa.

- Cada vez que fracassava tinha uma frustração muito grande. Não é fácil, gera uma cobrança da sociedade, da família. É uma pressão muito grande - desabafa Maria de Fátima, que chegou a ficar deprimida por não conseguir engravidar.

O casal fez terapia e diz que o acompanhamento psicológico e religioso foi fundamental para superarem a tristeza por não conseguirem ter um filho. Eles pensaram em adotar uma criança e deram início ao processo de adoção, mas desistiram depois que assistentes sociais tentaram convencê-los a parar de tentar um filho natural.

- Essa dificuldade toda mexe muito com a base da relação. Se o casal não tiver estrutura não dá conta - diz Paulo Henrique.

A realização do sonho de ter um filho custou caro. No total, eles gastaram R$ 110 mil. Isso sem contar os gastos com enxoval e com o nascimento de Gustavo. Na última tentativa, o casal, que mora em Sobradinho, desembolsou R$ 25 mil, sendo R$ 10 mil apenas com despesas de viagem, hospedagem e remédios para o tratamento realizado na clínica de Roger Abdelmassih em São Paulo.

- Eu trabalhava praticamente só para juntar dinheiro para poder fazer o tratamento, mas valeu a pena. Eu faria tudo de novo - conta Maria de Fátima, que ainda não sabe se tentará outro bebê.

O valor alto pago pelo casal poderia ter sido poupado se Maria de Fátima tivesse sido atendida por algum hospital da rede pública. O Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB) é um dos seis centros de saúde pública do País que oferecem técnicas de reprodução assistida às pacientes. Mas a espera para ser atendida é grande. Maria de Fátima está inscrita desde 1997 e ainda não foi chamada para participar do tratamento.

- Deveria haver mais verbas para esta área. Há bons médicos e profissionais, mas faltam recursos e investimento - lamenta Paulo Henrique.

A emoção de ter o filho nos braços compensou qualquer investimento. Na clínica de Roger Abdelmassih, viram o sonho ser realizado.

- Fiquei impressionado não só com o lado material, mas com o lado humano. Você sente a mão de Deus lá - relata Paulo Henrique.

Ao saber do elogio, o médico responde, modesto:

- Sou um instrumento de Deus. Ele está acima de tudo. Sou abençoado e privilegiado.