Título: Luizinho e Brant entram na fila da cassação
Autor: Daniel Pereira e Tina Vieira
Fonte: Jornal do Brasil, 20/01/2006, País, p. A3

BRASÍLIA - Em um dos dias mais tensos desde a abertura da série de processos de cassação de deputados acusados de envolvimento no escândalo do mensalão, o Conselho de Ética da Câmara recomendou ontem a perda de mandato de Roberto Brant (PFL-MG) e Professor Luizinho (PT-SP). A apresentação do parecer sobre o caso de Luizinho foi tumultuada, com troca de farpas entre deputados, e refletiu o clima de pressão que cercava o conselho nos últimos dias.

O relator do processo, Pedro Canedo (PP-GO), fez ajustes no texto do voto, que tem apenas seis páginas, horas antes de sua leitura. Irritado, Luizinho acusou o relator de ter cedido a ''pressões políticas'' para mudar seu voto na última hora. Na véspera da leitura do parecer, o petista dava como certa sua absolvição em conversas com aliados nos corredores.

Depois de passar a semana em busca de uma ''solução menos drástica'', porém pressionado para não desviar a praxe do conselho de indicar cassação a todos aqueles flagrados como beneficiários de saques do valerioduto, Canedo teve de ceder. E na última hora, elaborou um parecer contrário a absolvição, quebrando o acordo do partido de não se manifestar contrário a nenhum dos casos. Para colegas, chegou a sinalizar a intenção de sugerir ''uma pena mais branda''. No entanto, foi advertido de que poderia ser criticado pela opinião pública.

O cheiro da pizza parece ter atingido de vez o Congresso. Um acordo costurado com linha tucana pode livrar da cassação o deputado Roberto Brant (PFL-MG) antes mesmo de seu processo chegar ao plenário da Câmara. Na mira de uma futura composição com o partido do parlamentar mineiro, o PSDB atirou ao Conselho de Ética da Casa seus dois suplentes para ajudar no combate à cassação. Entraram em cena Antônio Carlos Mendes Thame (PSDB-SP) e Bosco Costa (PSDB-SE).

O apoio dos dois deputados, somado aos votos de PT, PP e do próprio PFL, asseguraria a absolvição de Brant. A dupla tucana que ocupava as duas cadeiras titulares da legenda no conselho, Gustavo Fruet (PSDB-PR) e Carlos Sampaio (PSDB-SP), está temporariamente afastada. Fruet desde o final do ano passado, quando assumiu a sub-relatoria de movimentações financeiras da CPI dos Correios. No caso de Sampaio, a justificativa é pessoal. Ele estaria engajado com a mudança do filho para a França e só retorna ao Brasil no dia 27 deste mês. Exatamente quatro dias depois do previsto para a votação do relatório final.

Ontem, Nelson Trad (PMDB-MS) apresentou seu voto por escrito, num exercício para equilibrar as acusações de caixa dois e a vida pregressa do pefelista. No relatório, elogiou Brant por ''seu desempenho louvável e o caráter de cidadão probo demonstrados ao longo de sua carreira''. Mas não deixou de apontar que houve ''deslizes imperdoáveis'' que comprovaram quebra de decoro parlamentar.

- A vantagem indevida, confessada pelo representado, consistiu em apropriação de receitas de fontes não declaradas e com finalidades não demonstradas na prestação de contas para quitar despesas do partido, pelas quais se responsabilizara. Atente-se que a situação exposta guarda semelhança com a que motivou o pronunciamento deste conselho no caso do deputado Romeu Queiroz, que serve de parâmetro para o julgamento dos demais envolvidos no recebimento de dinheiro das contas do empresário Marcos Valério - diz o texto.

Brant não se intimidou com o voto do relator. Na sua avaliação, o texto ''é mais uma prova de que ele não merece a cassação''. Voltou a reafirmar que deixará a política ao término do processo e disse estar confiante numa absolvição ainda no plenário do Conselho. A força que sustenta tamanha confiança: o pedido de vista do voto de Trad feito pelos colegas pefelistas Fernando de Fabinho (BA), Moroni Torgan (CE), e ainda do deputado do PP, Bendito de Lira (AL). O pedido de vista por parte do deputado do PP também foi levantado por alguns conselheiros como uma sinalização do acordo para livrar o pefelista.

- Trad foi muito enfático em ressaltar minha honra. Espero ser absolvido aqui mesmo, até porque o conselho é constituído de 14 membros, que já mostraram que têm autonomia mental, intelectual e partidária para julgar - avaliou.