Título: Família fica em segundo plano
Autor: Florença Mazza e Waleska Borges
Fonte: Jornal do Brasil, 23/01/2006, Rio, p. A13

Os salários baixos acabam levando os médicos a trabalhar mais tempo do que os profissionais de outras áreas. A pesquisa do Cremerj realizada em 2001 com 118 médicos de 15 hospitais e cinco Postos de Atendimento Médico (PAM) revelou que apenas 3% dos profissionais das emergências tinham até 29 anos. A maioria - 92% - estava na faixa entre os 30 e os 59 anos. Com muitos anos de emergência nas costas, M. conta que é comum os médicos adiarem a aposentadoria para não terem os salários diminuídos:

- Apesar de doentes e cansados, eles continuam trabalhando nos hospitais, já que ao se aposentarem perdem R$ 1.100 de seus salários.

Emocionado, o médico lembra do dia em que um colega seu teve um infarte fulminante justamente no último dia de trabalho, aos 70 anos.

- Ele foi encontrado em frente ao seu armário. Estava recolhendo seus objetos pessoais - conta M.

Estressados e com uma carga horária intensa, muitos profissionais acabam se dedicando mais ao trabalho do que a família. Na mesma pesquisa do Cremerj, 21% dos entrevistados apontaram como uma das maiores queixas o pouco tempo para curtir os parentes.