Título: Alta do açúcar afeta álcool
Autor: Lucia Kassai e Chiara Quintão
Fonte: Jornal do Brasil, 23/01/2006, Economia & Negócios, p. A19

Commodity tem o maior valor nos EUA em 24 anos

SÃO PAULO - A disparada dos preços internacionais do açúcar, que na semana passada atingiram o maior patamar em 24 anos, é vista como uma bênção pelas usinas brasileiras de açúcar e álcool. O fenômeno, no entanto, pode induzir os produtores a preterir o álcool e ampliar no futuro o problema da escassez do produto. Nos últimos 12 meses, as cotações acumulam alta de 83%.

Preços melhores são sinônimo de receita e eventualmente de lucratividade maior. Por outro lado, as usinas, que estão ''amarradas'' com a venda de contratos na Bolsa de Nova York, já depositaram US$ 250 milhões para ajustes nas margens diárias na bolsa. Desde que os usineiros fixaram o açúcar na bolsa, os preços subiram, em média, 40%. Estima-se que 20% da exportação brasileira, de 15,5 milhões de toneladas, seja protegida em Nova York.

Vale lembrar que os US$ 250 milhões não foram simplesmente ''queimados''; eles ficam depositados em uma conta da bolsa. Se os preços caírem, parte do dinheiro retorna. E, ao final do contrato, a conta é zerada. Ou seja, a usina não perde nem ganha dinheiro. A maior dificuldade é ''carregar'' os contratos. Principalmente em caso de alta de preços. Quando os preços sobem, é preciso depositar a margem em dinheiro ou em títulos públicos americanos.

Maurílio Biagi Filho, da Usina Moema, ressalta que isso não significa que as usinas terão problemas de caixa ou irão segurar os investimentos. Ele diz que a alta dos preços do açúcar ''pode, mas não deve'' prejudicar o abastecimento de álcool no Brasil.

O diretor da Usinas e Destilarias do Oeste Paulista (Udop), Fernando Perri, explica que os usineiros não deixarão de produzir álcool, mas poderão direcionar para a produção de açúcar o ''excedente maleável''. Para ele, falta um planejamento estratégico para evitar que cada produtor busque apenas vender o bem que vai dar mais retorno para a sua empresa.

- Com os preços do açúcar de 30% a 40% maiores que os de álcool, quem vai querer produzir etanol com esse excedente? O mercado de álcool ficará mais pressionado - ressalta Perri.