Título: Ex-petista faz denúncias contra Lula
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Fonte: Jornal do Brasil, 18/01/2006, País, p. A2

A CPI dos Bingos iniciou ontem os trabalhos em 2006 abrindo uma nova frente de investigação. O economista Paulo de Tarso Venceslau, ex-secretário de finanças de prefeituras petistas no Estado de São Paulo durante a década de 1990, detalhou à CPI um esquema de caixa dois que envolvia Roberto Teixeira, pessoa próxima ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

De acordo com Venceslau, o esquema envolvia diversos partidos políticos, mas foi freado quando ele ocupou a secretaria de finanças de São José dos Campos. O esquema teria financiado também, em 1993, a Caravana da Cidadania - parte da campanha do então candidato Lula à disputa presidencial.

Venceslau também atacou o presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Paulo Okamoto, que admitiu ter pago débitos do presidente Lula. Okamoto foi acusado de ser responsável pela arrecadação não contabilizada de recursos de empresas que tinham negócios com prefeituras petistas.

Quanto aos irmãos Roberto e Dirceu Teixeira, Venceslau afirmou à CPI, que eles intermediavam os interesses da Consultoria Para Empresas e Municípios (CPEM) junto a administrações municipais em São Paulo. A CPEM prometia aumentar a arrecadação das cidades com o Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Segundo Venceslau, isso era feito por falsificações de documentos e irregularidades contábeis. A CPEM, que não participava de licitações, ficava com parcela do montante arrecadado a mais. Parte desse dinheiro, disse o ex-petista, era repassado a Roberto Teixeira.

Venceslau disse que Lula teria dito a interlocutores, quando uma primeira Caravana da Cidadania passou por São José dos Campos, que ele estava lhe causando problemas. O ex-petista sugeriu que esses problemas seriam a falta de recursos que eram repassados ao PT por Roberto Teixeira.

O ex-petista afirmou também aos integrantes da CPI ter tido duas reuniões com Lula - que morou numa casa de Roberto Teixeira durante vários anos - onde falou sobre a atuação da CPEM. Na primeira, Lula teria defendido a empresa. No outro encontro, Venceslau disse ter revelado a Lula todas as irregularidades cometidas pela empresa de ''seu compadre''. O ex-petista disse que Okamoto foi designado por Lula para acompanhar o assunto.

Venceslau acusou Okamoto de lhe ''admoestar'' durante um encontro de secretários de prefeituras petistas realizado em Ribeirão Preto por ter alertado alguns colegas dos perigos de contratar a empresa representada pelos irmãos Teixeira.

Expulso do PT em 1998, Venceslau disse que o presidente Lula forçou sua saída do PT.

O depoimento de Venceslau causou duas reações: governistas tentaram desqualificá-lo e oposicionistas relacionou Lula aos esquemas de corrupção.