Título: Solução para as estradas
Autor: Marcus Quintella
Fonte: Jornal do Brasil, 18/01/2006, Outras Opiniões, p. A11

Diante das barbaridades e atitudes desesperadas do governo federal nessa paliativa operação tapa-buracos nas rodovias, sinto-me na obrigação de insistir nas críticas e alertas para a população brasileira, além de tentar apontar uma solução mais interessante para a sociedade. Tornaram-se públicas as restrições dos engenheiros e entidades do setor de transporte à qualidade dessa tumultuada e desordenada operação tapa-buracos, iniciada recentemente, embora todos concordem que não haveria outra solução imediata para evitar mais acidentes e mortes nas rodovias. O temor geral é que essa operação seja mais uma pirotecnia eleitoreira para iludir os eternos incautos eleitores brasileiros e, daqui a algumas semanas, seja interrompida ou entre em banho-maria, com algumas frentes de trabalho localizadas em pontos de fácil alcance das câmeras das TVs.

Na realidade, estamos presenciando uma operação espalhafatosa, iniciada no tranco, sem planejamento e que não resolverá o problema dos buracos, pois está sendo iniciada em plena estação de chuvas em muitas regiões, fato que implicará em serviços de má qualidade, visto que os buracos tapados não resistirão por muito tempo, talvez cerca de quatro ou seis semanas, dependendo do volume de tráfego e da intensidade das chuvas, e ressurgirão mais vorazes do que nunca.

Não preciso assumir uma posição profética para prever o fracasso dessa operação e saber que não haverá recuperação e reconstrução das rodovias, como manda o figurino. Em outras palavras, a situação continuará caótica na maioria das rodovias brasileiras.

De acordo com dados do Ministério dos Transportes, nos últimos 25 anos, a frota nacional de veículos cresceu 700% e os investimentos na malha rodoviária foram reduzidos em 50%. Segundo o IPEA, isso acarretou nos seguintes aumentos: 38% nos custos operacionais dos veículos, 18% no consumo de combustível, 100% no tempo de viagem e 50% no índice de acidentes. Além disso, economistas estimam perdas no PIB, em torno de 3%.

As melhores soluções para manter, modernizar e ampliar as rodovias sejam as concessões e as PPPs. A experiência brasileira de dez anos de concessões, em apenas 7% da malha nacional pavimentada, mostra que as estradas pedagiadas vêm apresentando bom estado de conservação, baixa emissão de poluentes, vantagens aos transportadores, redução de acidentes e mortes, benefícios aos orçamentos públicos e geração de empregos. Estão sendo preparadas oito novas concessões, nas regiões sudeste e sul, num total de 3.080 km, com destaque aos trechos São Paulo-Belo Horizonte (BR-381) e São Paulo-Curitiba (BR-116). No âmbito das PPPs federais, cuja lei fez aniversário no final de 2005, nada evoluiu e tudo encontra-se na estaca zero. Cabe ressaltar que as PPPs são fundamentais para as rodovias das regiões centro-oeste, norte e nordeste, onde estão localizadas as estradas com pouca atratividade para a iniciativa privada, sob a forma de concessão.

Em última análise, o site www.estradas.com.br realizou uma pesquisa com dez mil usuários de rodovias e constatou que 61% das pessoas aprovam as concessões como a melhor solução para melhoria das estradas. Isso mostra que o governo federal deveria liberar mais concessões e tomar uma atitude imediata para a implementação das PPPs, sob pena de continuar desperdiçando dinheiro público e mantendo o país com poucas rodovias pavimentadas de qualidade.