O Globo, n. 32.299, 11/01/2022. Política, p. 6
Bolsonaro lava as mãos em rixa eleitoral de auxiliares
Jussara Soares
Com ministros e aliados dispostos a concorrer ao mesmo cargo nas eleições de
2022, o presidente Jair Bolsonaro tem sinalizado que não vai interferir em
eventuais conflitos no seu quintal político. Quando procurado, ele vem
aconselhando os pré-candidatos a resolverem suas questões entre si. Apesar
disso, alguns ainda esperam que o presidente encontre uma solução para os
impasses que se anunciam no Rio Grande do Norte, Pernambuco, Rio Grande do Sul
e Distrito Federal até o fim de março. O prazo para a desincompatibilização
para quem ocupa cargo no governo é o início de abril.
Os
ministros Fábio Faria, das Comunicações, e Rogério Marinho, do Desenvolvimento
Regional, querem disputar o cargo de senador pelo Rio Grande do Norte. Nenhum
dá sinais de desistência. Interlocutores do Planalto relatam que Bolsonaro já
advertiu que os dois conversem entre si. Faria, que está licenciado do cargo de
deputado federal, trocará o PSD pelo PP. Já Marinho ingressou no PL junto com o
presidente em novembro.
De
um lado, aliados de Faria dizem esperar que uma conversa final com Marinho em
março possa definir a questão baseada em pesquisas de intenção de votos no
estado. Já pessoas ligadas ao ministro do Desenvolvimento Regional avaliam que
o fato de estar no mesmo partido que o presidente possa ajudar a pender a
balança favoravelmente a ele.
Marinho,
que também é ex-deputado federal, comanda a pasta responsável por executar
obras de segurança hídrica, como barragens, cisternas, açudes e poços,
principalmente no Nordeste, onde Bolsonaro precisa crescer nas eleições. Já
Faria, filho do ex-governador Robinson Faria, tem como vitrine o leilão da
tecnologia 5G. O nome dele é ventilado como uma opção de vice de Bolsonaro, o
que resolveria a questão local.
COMPOSIÇÃO NO DF
A
vaga do Rio Grande do Norte que estará em disputa atualmente é ocupada pelo
senador Jean Paul Prates, do PT, que tentará a reeleição. O ex-presidente do
Senado, Garibaldi Alves, do MDB, também tentará retornar à casa.
No
Distrito Federal, as conversas passam pelo futuro político dos ministros da
Secretaria de Governo, Flávia Arruda, e da Justiça, Anderson Torres. Deputada
federal licenciada, Flávia, filiada ao PL, quer disputar o Senado, alvo do
interesse também de Torres, filiado ao DEM, partido que aguarda a fusão com o
PSL, que dará origem ao União Brasil, ser aprovada do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE). Os dois são próximos e, segundo interlocutores, tendem a
resolver a questão sem embates duros. O desfecho, porém, passará por uma
composição com o governador Ibaneis Rocha (MDB), que tentará a reeleição. E um
dos cenários discutidos é que um dos ministros saia como vice do governador.
Integrantes
do governo federal observam que o ministro da Justiça, que foi secretário de
Segurança Pública do governo Ibaneis até ser convidado por Bolsonaro, teria
mais chances de eleição como deputado federal. Por outro lado, apontam que
Torres também pode abrir mão de uma candidatura, a
pedido do presidente, e seguir à frente da pasta.
Já
no Rio Grande do Sul, o ministro do Trabalho e Previdência, Onyx Lorenzoni, que
trocará o DEM pelo PL, e o senador Luiz Carlos Heinze (PP-RS), da tropa de
choque bolsonarista na CPI da Covid, são pré-candidatos ao governo. Nenhum dos
dois está disposto a abrir mão da candidatura.
No
Nordeste, outro estado onde há um impasse é em Pernambuco. O ministro do
Turismo, Gilson Machado, filiado ao PSC, tem interesse em disputar o Senado ou
o governo. Ocorre que a filiação de Bolsonaro ao PL, partido de Valdemar Costa
Neto, acabou atrapalhado os planos. A legenda é comandada no estado pelo
ex-deputado federal e atual prefeito de Jaboatão, Anderson Ferreira, que também
tem interesse em concorrer a senador ou ao governo.
Em
novembro, quando Bolsonaro confirmou a ida para o PL, rumores de que o
presidente iria impor Gilson Machado como candidato ao governo ou ao Senado
irritaram Ferreira, que exigiu de Valdemar uma garantia de sua autonomia no
estado. Antes da entrada de Bolsonaro no PL, o presidente do diretório
pernambucano mantinha conversas adiantadas com Raquel Lyra, prefeita de
Caruaru, filiada ao PSDB, para junto com PSC e Cidadania montarem um palanque.
As pesquisas definiriam entre os dois prefeitos quem concorreria ao governo e
ao Senado.
O
presidente da República, em meio ao impasse, orientou que Gilson Machado
buscasse o entendimento com o PL local. Bolsonaro precisa construir um palanque
forte no estado, onde PT e PSB negociam uma aliança. Em entrevista a uma rádio
em Pernambuco na quinta-feira, Bolsonaro sinalizou que ainda não fez um acordo
e reforçou que não aceitará alianças com partido de esquerda, nem que o
candidato seja independente.
—
Eu fui colega do Anderson por um tempo como deputado federal, eu o acho
excepcional, é um excelente nome aí para Pernambuco. Logicamente, a gente
conversa com o Anderson, o Gilson e com o presidente do partido para ver se
eles se entendem (sobre) qual é o melhor nome para o Pernambuco. Agora, muitas
vezes, o colega quer vir candidato ao cargo majoritário do estado, do
governador, e ser independente, não ter qualquer vinculação com o presidente da
República, daí fica difícil de fazer acordo nessa linha — disse Bolsonaro.