O Estado de S. Paulo, n. 47890, 29/11/2024. Metrópole, p. A20
Sede da próxima COP, Pará responde por 43% dos incêndios florestais
Paula Ferreira
Sede da próxima Conferência do Clima das Nações Unidas (COP-30), o Pará tem acumulado o maior número de incêndios florestais no País. Na última semana, Santarém, uma das mais importantes cidades da Amazônia, registrou um dos piores índices de qualidade do ar do planeta, após ser encoberta por fumaça decorrente das queimadas. Anteontem, segundo o monitor PurpleAir, o município atingiu índice de qualidade do ar de 361 μg/m³ (microgramas de poluição por metro cúbico), mais de 70 vezes maior do que o limite de 5 μg/m³, colocado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como desejável.
O Pará registrou 8.386 focos de incêndio de 1.º a 26 de novembro, conforme o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Isso representa 43,8% de todos os incêndios florestais no Brasil.
Neste ano, o Brasil enfrentou a pior estiagem das últimas sete décadas, desde que começaram as medições federais. A seca motivou recordes e queimadas na Amazônia e no Pantanal, o que expôs falhas de prevenção da gestão Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tem apontado a pauta ambiental como prioridade. Procurados, o Ministério do Meio Ambiente e o governo do Pará não comentaram. A prefeitura de Santarém disse ter reforçado a fiscalização.
E os governos? Ministério do Meio Ambiente e Estado não falaram; prefeitura diz reforçar fiscalização
“Ano passado a gente teve fumaça, mas tenho a impressão de que este ano está muito pior, é como se estivesse queimando do nosso lado”, relata Ana Paula Viana, de 31 anos, moradora de Santarém.
A estudante vive no bairro Santo André, próximo da Área de Proteção Ambiental (APA) Serra do Saubal. Ela conta que o calor faz com que os moradores, em sua maioria sem ar-condicionado, mantenham as janelas abertas, o que faz com que tenham de conviver com a fumaça o dia inteiro.
O médico Felipe Costa, que tem filhas de 1 e 2 anos de idade, afirma que está alerta em relação à saúde das crianças. “É difícil de respirar ao ar livre. Constantemente surge irritação nos olhos, garganta e nariz.”
No domingo, cerca de 180 mil fiéis participaram do Círio de Nossa Senhora da Conceição, uma das festividades mais tradicionais da cidade. Conforme a prefeitura, durante o evento, algumas pessoas passaram mal pelo cansaço e pelo calor, agravados pela fumaça que encobria a cidade. No dia seguinte, o prefeito Nélio Aguiar decretou emergência ambiental na cidade.
“Está faltando água nas comunidades, a população sofre com o desabastecimento de alimentos, doenças respiratórias”, afirma Neres, de 24 anos. Segundo ele, as queimadas persistem no território há mais de 40 dias, sem fiscalização efetiva por parte dos órgãos públicos. “Fiz denúncia em 8 de novembro e nada.”
MPF. Diante da gravidade da situação no Estado, na semana passada o Ministério Público Federal (MPF) cobrou medidas dos governos estadual e federal. Ontem, seguia sem resposta. •