Correio Braziliense, n. 22580, 13/01/2025. Política, p. 2
Definição no caso das joias e cartão de vacina
O ex-presidente Jair Bolsonaro enfrentará, em 2025, novas batalhas jurídicas sobre a suposta participação no caso de venda das joias sauditas, na fraude ao cartão de vacina e, sobretudo, na trama para decretar um golpe de Estado no Brasil e anular o resultado das eleições de 2022.
No caso da trama golpista, a Justiça se prepara para analisar o inquérito da Polícia Federal que indiciou, além de Bolsonaro, mais 36 pessoas. A denúncia está nas mãos da Procuradoria-Geral da República (PGR). Devido ao recesso de fim de ano no STF, que começou em 19 de dezembro e termina em 1° de fevereiro, a expectativa é a de que o julgamento da eventual denúncia ocorra somente no próximo mês.
Na avaliação do advogado Belisário dos Santos Júnior, um eventual julgamento de Bolsonaro provocará grande repercussão internacional com impacto, inclusive, nos EUA. “Não só pela proximidade que Bolsonaro diz ter com Trump e com a direita mundial, mas também pelo lado oposto, por ser essa a primeira vez que um presidente da República no Brasil será levado às barras da justiça e próximo a uma condenação por tentar destruir a democracia, por tentar destruir o Estado de Direito, por tentar impor um regime autoritário declaradamente antidemocrático no Brasil”, aponta.
Neste ano, a PF também pediu ao ministro Alexandre de Moraes compartilhamento de informações da investigação da chamada Abin Paralela, um esquema de espionagem ilegal montado na Agência Brasileira de Inteligência. Para a corporação, há conexão entre as ações do esquema e a tentativa de golpe de Estado no país.
A polícia aponta que a Abin paralela era usada em favor de Jair Bolsonaro e familiares. O objetivo seria encontrar situações que desabonasse críticos do governo e criar informações falsas para atacar personalidades que pudessem prejudicar eventual reeleição do ex-chefe do Planalto.
O analista político Melillo Dinis acredita que o futuro do bolsonarismo depende de grandes esforços, como: manter a tropa unida em torno de Jair Bolsonaro, enfrentar a guerra judicial, aumentar o capital político e garantir espaço e visibilidade ao lado da direita.
“A grande prioridade congressual será a eleição de uma bancada no Senado capaz de mudar o rumo daquela Casa, que tem servido de contenção às propostas da Câmara. No campo dos nomes, temos o fortalecimento da família Bolsonaro. Se tudo der errado para o patriarca, os filhos serão alçados à condição de candidaturas majoritárias. Por exemplo, Senado e Presidência da República”, avalia.
Fábio Andrade, cientista político e professor da ESPM, destaca a dimensão internacional do bolsonarismo em conexão com a extrema direita. “Embora seja um fenômeno muito popular, não é algo tipicamente brasileiro. Está inserido nos movimentos internacionais de expansão da extrema direita, que tem os congressos internacionais e tem toda uma rede de comunicação internacional que está muito à frente no que diz respeito à utilização das novas mídias sociais como meio de propagação, como meio de disseminação e utilização para a comunicação política. Está muito à frente do que qual quer outro adversário”, ressalta. “Então, o bolsonarismo está nesse lugar: da extrema direita internacional, altamente conectada, que utiliza de forma muito mais avançada os instrumentos de comunicação mais atuais. E não é só isso. Eles se alimentam, basicamente, do sentimento em que a economia ficou cada vez mais voltada para a eficiência e a grande diretriz para a tomada de decisão é a economia e, sobretudo, a redução de custos, camadas econômicas são deixadas para trás. Essas camadas econômicas encontram no discurso antissistêmico da extrema direita um viés de comunicação muito forte”, completa Andrade. (LP)
Frase
“Há vários aliados de Bolsonaro presos, que deverão fazer delações premiadas, e a consequência disso é que haja uma escalada dessas denúncias, alcançando mais do que o umbigo, alcançando o pescoço do Bolsonaro”
Paulo Ramirez, cientista político