O Globo, n. 32.300, 12/01/2022. Economia, p. 10
BC cita energia e efeito global para IPCA acima da meta
Gabriel Shinohara
Em carta enviada ao ministro da Economia, Paulo Guedes, o presidente do Banco
Central (BC), Roberto Campos Neto, apontou a alta dos preços de commodities, a
tarifa mais cara de energia elétrica e os desequilíbrios de demanda e oferta de
insumos, com gargalos nas cadeias produtivas globais, como os principais
fatores para que a inflação ficasse acima do teto da meta em 2021.
A
carta foi apresentada ontem, quando o IBGE divulgou o IPCA de 2021, que ficou
em 10,06%, bem acima do teto da meta de 5,25%. Isso obriga o presidente do BC a
justificar o resultado do ano em uma carta ao ministro da Economia. É a sexta
vez em que isso acontece —agora, no primeiro ano de autonomia do BC.
No
texto, o presidente do BC cita todos os grupos de commodities, como
agropecuárias, metálicas e energéticas, principalmente o petróleo. Outro ponto
relevante foi a seca: a carta cita especificamente a criação da bandeira
“escassez hídrica” na conta de luz.
Campos
Neto aponta ainda os gargalos na cadeia produtiva global, como a falta de
semicondutores e os problemas no frete internacional, como fatores que puxaram
a inflação em 2021. Segundo ele, “mudanças significativas no padrão de consumo
causaram aumento da procura por bens industriais. Ao mesmo tempo, a oferta não
reagiu tempestivamente em ritmo suficiente para atender à nova de manda.”
A
questão fiscal, que foi um elemento central no debate em torno da política
econômica em 2021, principalmente coma P EC dos Precatórios, só foi citada com
relação a seu efeito sobre o dólar. “A tendência de depreciação na segunda
metade de 2021 refletiu principalmente questionamentos em relação ao futuro do
arcabouço fiscal vigente e o aumento dos prêmios de risco associados aos ativos
brasileiros, diante da maior incerteza em torno da trajetória futura do
endividamento soberano”, diz a carta.
—
Ele (Campos Neto) atrelou o risco fiscal ao dólar e, consequentemente, isso
impacta a inflação — disse Cristiane Quartaroli,
economista e estrategista de câmbio do Banco Ourinvest.
O
lado fiscal, de gestão das contas públicas, é responsabilidade do Ministério da
Economia. Ao BC cabe usar a política monetária, por meio dos juros, para
debelar a inflação.