Título: CPI investiga depósitos suspeitos
Autor: Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 21/01/2006, País, p. A4

BRASÍLIA - Integrantes da CPI dos Correios afirmaram ontem que a comissão investigará os depósitos de cerca de R$ 104 milhões realizados em 1997 e 1998 em conta bancária da agência SMPB de propriedade de Marcos Valério Fernandes de Souza, por duas entidades públicas sob responsabilidade de governos do PSDB. São elas: a Telesp, então estatal de telecomunicações de São Paulo, e a Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro), ligada ao Ministério do Trabalho e Emprego.

Como pairam sobre as operações suspeitas de desvio de recursos públicos para financiar partidos políticos, parlamentares prometem quebrar os sigilos das empresas e pessoas físicas envolvidas, além de convocá-las para depor.

- É preciso saber quem são os sacadores e com quem eles se relacionam - disse Eduardo Paes (PSDB-RJ).

O caso da Telesp terá prioridade na investigação. Entre abril de 1997 e setembro de 1998, a empresa depositou R$ 41 milhões na conta da agência de Valério no Bicbanco, apesar de o contrato prever o desembolso de, no máximo, R$ 4 milhões. O contrato foi assinado pelo então diretor da Telesp Carlos Eduardo Sampaio Doria, eleito deputado federal pelo PSDB em 1998.

O relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), classificou de ''crime'' o pagamento pela Telesp de um valor dez vezes maior do que o previsto em contrato e o desembolso por um serviço cuja execução não é comprovada.

A comissão quer saber o destino de recursos depositados pela então estatal na conta da SMPB São Paulo e depois repassados para seis empresas de propriedade dos irmãos Ricardo e Rubens Otsuka. Todas as empresas teriam sido abertas apenas para receber dinheiro da agência de Marcos Valério e jamais declararam Imposto de Renda.

Requerimentos apresentados pelo deputado Carlos Abicalil (PT-MT) e pela senadora Ideli Salvatti (PT-SC) pedem a quebra dos sigilos bancário e fiscal dos irmãos Otsuka e das empresas por eles controladas.

Entre julho de 1997 e março de 1999, a Fundacentro depositou cerca de R$ 30,6 milhões na conta da SMPB. Em ação apresentada à Justiça, o Ministério Público requer a devolução de R$ 12,3 milhões aos cofres públicos.