Título: Conselho recomenda cassação de deputado do PL
Autor: Renata Moura
Fonte: Jornal do Brasil, 21/01/2006, País, p. A4

Apontado como beneficiário do valeriododuto, Wanderval Santos vai recorrer

BRASÍLIA - O Conselho de Ética decidiu ontem, por 10 votos contra três, recomendar ao plenário a cassação do mandato de Wanderval Santos (PL-SP). O parlamentar é o segundo da lista de acusados de envolvimento com o valerioduto a ter o pedido de cassação aprovado pelo Conselho. Apontado como beneficiáde R$ 150 mil das contas de Marcos Valério de Souza, Wanderval já avisou que vai recorrer da decisão. O que pode significar um atraso de pelo menos duas semanas para que seu destino seja selado pelo plenário da Câmara.

A secretaria do conselho informou que enviará a decisão para publicação no diário oficial da Casa na segunda-feira. Só então, o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), fará a leitura da recomendação no plenário e abrirá o prazo de cinco sessões para que a defesa se manifeste, no caso de recursos.

- Considero a decisão viciada. Vou recorrer à CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) e se for o caso até ao Supremo - desabafou Wanderval ao deixar o plenário 11 das comissões onde, após quase três horas de debates, ocorreu seu julgamento.

De acordo com dados fornecidos pelo Banco Rural, um assessor do deputado foi identificado como sacador de R$ 150 mil. A defesa argumenta que o parlamentar apenas cedeu seu funcionário a pedido do ex-deputado Carlos Rodrigues (PL-RJ), para prestar serviço particulares.

Os longos debates ontem antes da votação foram motivados pelo voto em separado apresentado pelo deputado José Carlos Araújo (PL-BA). Segundo ele, seu colega de bancada não poderia ser condenado pelo conselho uma vez que não se apropriou dos recursos para beneficio pessoal. Araújo ainda questionou o voto do relator do processo, Chico Alencar (PSOL-RJ), que abordou fatos não mencionados na representação que veio das CPIs dos Correios e do Mensalão.

Também correram em defesa do deputado, Ângela Guadagnin (PT-SP), Josias Quintal (PSB-RJ) e Edmar Moreira (PFL-MG). Para o grupo, está claro que houve omissão por parte do deputado. No entanto, segundo eles, a perda de mandato recomendada por Alencar é algo ''desproporcional ao delito''.

- Por coerência sempre considerei importante uma modificação no nosso Código de Ética. Porque cada caso é um caso e temos de ter mais opções para penas alternativas - avaliou a petista Guadagnin.

Edmar Moreira chegou até a declarar que ''o ex-bispo Carlos Rodrigues inocentou Wanderval'', ao se ausentar do Parlamento. Primeiro parlamentar a renunciar depois de estourar o escândalo do mensalão, Rodrigues foi convidado por diversas vezes a depor no conselho, mas se recusou. O relator Chico Alencar retrucou os argumentos e conseguiu arrebanhar dez votos.