O Globo, n. 32.300, 12/01/2022. Política, p. 6
O fator Tabata como obstáculo na federação entre PT e PSB
Thiago Prado
Se há vozes públicas no PSB contra a formação da federação com o PT — vide a
entrevista ao GLOBO do governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, na
semana passada —, existem também as forças silenciosas do partido operando para
a ideia subir no telhado. Filiada à legenda desde setembro, a deputada Tabata
Amaral (SP) mira 2024, ano de eleições municipais.
Caso
PT e PSB fechem uma federação até 2 de abril, data-limite para a formalização
da união, uma das regras a serem cumpridas será uma aliança em todos os 5.570
municípios brasileiros daqui a dois anos. O projeto de ser candidata a prefeita
de São Paulo ficaria prejudicado, pois o PT jamais apoiaria Tabata no maior
colégio eleitoral brasileiro.
Desde
o fim do ano, o comportamento do prefeito do Recife e namorado de Tabata, João
Campos (PSB), com relação ao tema federação passou a ser mais claudicante, o
que dificulta a união nacional nesses termos. Não parece razoável imaginar o
PSB apoiando outro candidato senão Lula (PT) em outubro, mas sem o apoio de
Pernambuco, o principal polo de poder socialista, dificilmente sairá do papel o
mecanismo da federação partidária, que pressupõe uma parceria engessada com o
PT ao longo de quatro anos.
O
casal João Campos e Tabata Amaral nunca foi afinado com o PT, ressalte-se. A
deputada coleciona atritos com petistas, o último deles o episódio em que o
ator José de Abreu compartilhou um tuíte de um perfil que dizia querer socar a
parlamentar. “O PT ignora o machismo dependendo do agressor”, disse em
entrevista à BBC, revoltada com a falta de solidariedade na esquerda. O filho
de Eduardo Campos, hoje defensor do apoio à candidatura Lula, tinha outro plano
em 2021. Seu objetivo era colocar de pé uma terceira via competitiva —conversas
com o apresentador Luciano Huck foram realizadas, mas acabaram não indo adiante.
Os
ruídos entre PT e PSB em Pernambuco, tão presentes na disputa entre João Campos
e Marília Arraes em 2020, voltaram a ecoar esta semana com as afirmações do
senador Humberto Costa de que será candidato à sucessão de Paulo Câmara no
governo do estado. Como o ex-prefeito do Recife e hoje secretário estadual de
Desenvolvimento, Geraldo Júlio, desistiu de concorrer, o petista vem se
aproveitando do vácuo para promover a si próprio. Câmara promete escolher até o
fim de janeiro entre os deputados federais Danilo Cabral ou Tadeu Alencar para
a disputa. Será mais um estado (assim como São Paulo e Rio Grande do Sul) em
que PT e PSB teimam em manter candidaturas, o que impossibilita a federação de
partidos.