O Estado de S. Paulo, n. 47891, 30/11/2024. Política, p. A9

Reunião de Lula e Tarcísio tem menção à ditadura
Henrique Sampaio

 

 

Uma cerimônia no Palácio do Planalto reuniu ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes (MDB). A solenidade, montada para anunciar destinação de recursos para obras de transporte que beneficiarão a capital paulista, foi o primeiro encontro com Lula dos governantes de São Paulo – apoiados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) – após a conclusão pela Polícia Federal (PF) da investigação por tentativa de golpe de Estado.

O ato na sede do governo federal ganhou contornos de desagravo à democracia e críticas à ditadura. Na solenidade, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) fez menções ao período do regime militar e enfatizou a importância da democracia durante seu discurso. E lembrou que durante a ditadura políticos da oposição não eram recebidos pelo governo. “Como é bonita a democracia. Passadas as eleições, os entes federados, juntos, trabalhando para alcançar o interesse público e o bem comum”, disse o vice-presidente.

Em seguida, resgatou memórias da ditadura militar: “Fui vice-prefeito da minha cidade natal (Pindamonhangaba-SP) no período triste da ditadura no Brasil, onde nós prefeitos éramos separados pelo partido político.” Ele lembrou que, por ser contra os militares, ganhava uma pulseira de cor diferente. “Só tinha reunião com o governo federal quem era do partido do presidente. A democracia é o respeito ao povo”, concluiu.

TENSÕES ELEVADAS. A reunião no Planalto ocorreu em um momento de tensões políticas elevadas. Tarcísio saiu em defesa de Bolsonaro após seu indiciamento pela PF – a investigação relata que a investida golpista previa um plano para matar Lula e Alckmin, além do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

Aloizio Mercadante, presidente do BNDES, fez referência ao relatório da PF. “Não é fácil um presidente e um vice que foram ameaçados de morte, de um golpe de Estado e de tudo o que nós assistimos recentemente, manter a mesma atitude de compromisso ao voto popular a quem é eleito.” Lula não discursou.

Já Tarcísio e Nunes optaram por ignorar o assunto. Em sua fala, o governador paulista, que foi ministro no governo Bolsonaro, saudou o presidente Lula, destacou a importância do BNDES e celebrou a parceria do governo federal com o Estado e a capital.