Título: Cafezinho ganha status de drinque
Autor: Luciana Navarro
Fonte: Jornal do Brasil, 22/01/2006, Cafezinho ganha status de drinque, p. D4

Estabelecimentos especializados já se espalham pelo Distrito Federal e a profissão de barista se fortalece Um bom cafezinho depois das refeições é apreciado por muitos brasileiros. Mas, cada vez mais, a bebida deixa de ser ingerida como acompanhamento e ganha status de drinque. A prova disso é o surgimento da profissão de barista, pessoa especializada em fazer um café expresso de qualidade. - O barista conhece o café e sabe fazer o expresso dentro de todos os parâmetros ideais - explica Pedro Lisboa, produtor de cafés e primeiro brasileiro a participar como convidado do corpo de jurados do Campeonato Brasileiro de Baristas.

Assim como os enólogos, especialistas em vinhos, os baristas estudam para aprender a verdadeira técnica de preparação do café.

- O barista deve saber que o café mais escuro é mais amargo e o mais claro tem sabor mais ácido e uma doçura característica - detalha Lisboa.

Segundo o barista, a partir do aspecto do café é possível regular o moinho e calcular o tempo certo para a extração do café. No processo de fabricação do expresso, que dura entre 20 e 30 segundos, primeiro saem as gorduras do café. Logo depois saem os ácidos e, por fim, a cafeína e os gostos remanescentes.

- Para se extrair um bom expresso é preciso aprender o equilíbrio certo entre pressão, água e o pó de café - afirma.

Para Lisboa, o barista não é apenas aquele capaz de fazer o café em máquinas de expresso, mas também as pessoas que sabem executar o ritual de preparação da bebida. Esse é o caso de Paolo Giovanni Torresani, 60 anos. Italiano, era acostumado a preparar o café com a Moka, cafeteira italiana feita de alumínio e usada para preparação da bebida no fogão. Em 1982, quando chegou ao Brasil, aprendeu a fazer à moda brasileira e passou a usar o coador de pano.

- Gosto dos rituais. Esquento a água sem deixar ferver. Com o pó do café no coador, coloco a água quente sem deixá-la encostar na borda do coador. Depois de pronta, esquento a bebida mas sempre sem deixar ferver - conta Torresani.

Professor de Italiano, passa a receita do café à brasileira aos alunos. Conta, também, que, na Itália, durante o inverno, acrescenta-se grapa ao café, uma espécie de aguardente feita do bagaço da uva.

Valorização - A atividade de barista vem sendo valorizada. No próximo mês, o café Cristina Colina das Pedras vai inaugurar, no Pier 21, uma cafeteria de luxo onde todos os funcionários serão baristas.

- Eles vão manipular o produto para o cliente e têm de ter o mesmo amor que temos na fazenda quando produzimos o café na fazenda - diz Lisboa.

O objetivo da cafeteria será transformar o café em uma bebida nobre entre os habitantes de Brasília.

- Essa é uma tendência mundial. O consumo de cafés especiais cresce 12% ano ano no mundo. Aos poucos, as pessoas começam a perceber os gostos diferentes e fazem opção por melhores sabores e mais zelo no manuseio - afirma Lisboa.

O pó de café mais nobre pode ser encontrado em diversos mercados da cidade. Os mais famosos como o Illy e o Segafredo, ambos italianos, custam, em média, R$ 25.

Escolha - A escolha do café varia de acordo com o cliente. Cada paladar pede um tipo de café diferente. A cafeteria servirá diversos tipos de café. A torrefação do grão será feita diariamente e poderá ser vista pelos clientes. Cada consumidor poderá escolher o tipo de café e a forma de preparação e mistura que mais lhe agrade.

Aos poucos, os clientes serão capazes de descobrir as propriedades de cada tipo da bebida.