Título: A cada extrato, um susto
Autor: Samantha Lima
Fonte: Jornal do Brasil, 22/01/2006, Economia & Negócios, p. A17,18

Bancos elevam tarifas em até 125%, mais de 20 vezes acima da inflação, e criam cobranças que infernizam a vida do consumidor

Os crescentes lucros do setor bancário têm outras razões além das elevadas taxas de juros embutidas nas operações de crédito. A participação da cobrança de tarifas nas receitas das instituições aumentou de 13,5% para 13,8% nos seis primeiros meses de 2005, segundo dados da consultoria Austin Asis. E, a julgar pelo ritmo de reajuste dos preços nos últimos dez meses, em alguns casos de 125% (mais de 20 vezes superior à inflação acumulada de 2005), a mordida continuará engordando os ganhos dos acionistas de bancos e assustando os clientes.

Levantamento feito pelo Jornal do Brasil mostra que, em dez meses, o reajuste nas cestas de serviços em nove dos dez maiores bancos brasileiros superou o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, referência oficial de inflação), de 5,69%, em 2005. Como base de comparação, foi usada a mais recente pesquisa anual do Procon-SP sobre tarifas, realizada em março do ano passado. Banco do Brasil, Banespa, Bradesco, Caixa Econômica, HSBC, Itaú, Nossa Caixa, Real e Santander promoveram altas que variaram entre 7,6% (no caso do Itaú) e 26,3% (no Nossa Caixa). Apenas o Unibanco, que reajustou seu pacote em 4,5%, de R$ 20 para R$ 20,90, ficou abaixo do índice.

O levantamento foi realizado tendo como base cestas de serviços que incluem renovação cadastral, manutenção da conta, renovação do cheque especial, fornecimento de um talão de cheques, manutenção do cartão de débito, quatro extratos semanais no terminal eletrônico e oito saques no terminal eletrônico, sendo quatro em horário comercial e os demais fora desse período.

No caso das tarifas avulsas, foram identificados serviços sem aumentos no período e outros que subiram 50%, caso da manutenção de conta corrente no Banco do Brasil, que passou de R$ 5 para R$ 7,50. No Banespa, a alta bateu inacreditáveis 125% - ou 21 vezes o IPCA de 2005 - no reajuste da remessa de talão de cheques a domicílio, que saltou de R$ 2 para 4,50.

Correntista do Banco Real, o advogado Fabiano Santos verificou que o preço de sua cesta de tarifas aumentou de R$ 2,90 para R$ 3,90 - alta de 34%. O pacote lhe dá direito a seis extratos, quatro cheques, 10 compensações de cheques e duas transferências pela internet. Os demais serviços ele paga individualmente.

- Infelizmente dependemos dos bancos e temos que pagar por tudo. Nunca tive coragem de somar todos os meus gastos mensais. Como são valores pequenos, nem sempre percebemos. Acabei de ver que eles elevaram o valor mínimo para que o cheque emitido não seja tarifado de R$ 25 para 35. O preço da tarifa não mudou, mas a mudança de faixa acaba sendo um reajuste. Sem falar num extrato consolidado que insistem em me mandar, ao custo de R$ 2,95. Eu estava sóbrio na hora da abertura da conta e lembro-me bem de que eu pedi um extrato simplificado porque era gratuito. Já pedi para realizarem a troca, mas eles sempre alegam que o produto enviado é mais completo.