Título: PMDB cada vez mais dividido
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 24/01/2006, País, p. A3

BRASÍLIA - Em reunião da Executiva nacional, hoje pela manhã na Câmara, o PMDB deverá sacramentar 19 de março como a data das prévias em que será escolhido o pré-candidato do partido à Presidência da República. A definição sobre as prévias, no entanto, será apenas um ponto de partida para uma nova queda-de-braço entre as antagônicas alas governista e oposicionista do PMDB. Apesar de terem praticamente jogado a toalha em relação à tese pelo adiamento das prévias para maio ou junho, defendida pelo presidente do Congresso, Renan Calheiros (AL), na última semana, os governistas do partido trabalham nos bastidores para tentar isolar a pré-candidatura à Presidência do ex-governador do Rio Anthony Garotinho.

Em curso, duas estratégias. Uma delas consiste em inflar o nome do outro pré-candidato do partido, o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto. Na avaliação de governistas do PMDB, a candidatura Rigotto seria mais vulnerável que a de Garotinho pelo fato de o governador gaúcho figurar com apenas 3% nas recentes pesquisas de intenções de votos.

Caso não decolasse até junho, mês limite para homologação da candidatura na convenção, seu nome poderia ser substituído por outro mais palatável à ala que hoje apóia o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ou a candidatura própria poderia ser até enterrada.

O primeiro passo nesse sentido foi dado ontem em reunião, organizada pelo governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz (PMDB), na residência oficial do governo em Águas Claras. Participaram do encontro os presidentes do PMDB, Michel Temer (SP), e do Congresso, senador Renan Calheiros (AL), além dos governadores do Amazonas, Eduardo Braga, e do Tocantins, Marcelo Miranda.

Na reunião, que não havia terminado até o fechamento desta edição, Roriz comunicaria que a maioria dos governadores do PMDB fechou a favor da candidatura de Rigotto. Os partidários do governador do Rio Grande do Sul à Presidência pretendem fazer um ato em favor de sua candidatura no dia 3 de fevereiro em São Paulo.

A outra estratégia, no caso do triunfo de Garotinho nas prévias, é a de tentar, até junho, 'desconstruir' sua candidatura dentro do partido. Já existe uma movimentação para inviabilizar as prévias em pelo menos 10 estados controlados por caciques da ala governista. Com isso, a candidatura Garotinho poderia ficar esvaziada e ao fim e ao cabo, não restaria outra alternativa ao partido senão impedir a sua homologação na convenção.

Na noite de ontem, reunido na presidência do PMDB, com Michel Temer, o senador Sérgio Cabral Filho (RJ) e deputados do partido, Garotinho minimizou a movimentação da ala governista do partido.

- O PMDB vai caminhar unido em torno da candidatura própria, de um novo projeto para o país, independente de qualquer divergência - afirmou em tom de otimismo.

Para os defensores da candidatura Garotinho, dois fatores irão pesar para que a candidatura própria do partido se torne uma realidade um junho. A derrubada da verticalização e a viabilidade eleitoral do candidato do partido. Hoje, de acordo com a última pesquisa Ibope, Garotinho seria o principal nome do PMDB com 15% das intenções de voto.

Pelo menos no discurso, os setores do partido convergiram para um consenso ontem. Na última semana, o presidente do Congresso, Renan Calheiros (AL), defendeu que o PMDB definisse o candidato em maio ou junho sob o argumento de que o PMDB teria mais chance na disputa eleitoral se escolhesse seu postulante após a definição do PSDB. Ontem, no entanto, Renan, num sinal de trégua política, amenizou o discurso ao dizer que o confronto não seria a melhor saída para o partido no atual momento.

- Não podemos expor as vísceras do partido agora. O momento é de consenso. Se não houver consenso, não há necessidade de adiar as prévias para depois de março - afirmou.

Inicialmente, as prévias do PMDB estavam marcadas para o dia 5 de março. Mas o partido deve decidir hoje pelo adiamento para o dia 19 para que ela não seja esvaziada em função do Carnaval.

- Será um dia muito importante para o partido. Eu não quero nem pensar na possibilidade de não acontecer a prévia em março, pois isso inviabilizaria a candidatura daqueles que cumprem mandatos - avaliou Rigotto.