Título: Nome de Lula em relatório da CPI provoca a reação
Autor: Daniel Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 25/01/2006, País, p. A4

PT articula parecer paralelo na comissão dos Correios para livrar o presidente

BRASÍLIA - Apesar dos esforços do presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), para costurar acordo suprapartidário que permita a votação de um único relatório final, cresce entre parlamentares do PT a disposição de apresentar um documento paralelo. A manobra foi adotada na fracassada CPI do Banestado. Trata-se de uma reação à anunciada intenção do relator da comissão, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), de citar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no texto com as conclusões da investigação da CPI. ¿ A declaração do Serraglio é inadmissível e colocou o PT em pé de guerra ¿ disse a senadora Ideli Salvatti (PT-SC), cotada para a liderança do partido a partir de fevereiro.

Ela declarou que parlamentares do PT conversarão com o presidente da CPI dos Correios para saber se a citação de Lula está sob análise ou se a declaração não passa de ¿factóide¿. Procurado pelo JB, Delcídio não retornou as ligações. ¿ Não precisamos de mais gasolina. Isso só aproxima a CPI dos Correios à lógica da CPI dos Bingos ¿ disse Ideli.

Serraglio afirmou que não é possível responsabilizar o presidente de forma objetiva pelo mensalão e o caixa dois montado pelo PT. Mas Lula não teria sido ¿vigilante¿ o suficiente no governo. E a suposta ¿negligência¿ com as irregularidades praticadas não podem ser desconsideradas.

No calor das declarações do relator, o ex-diretor financeiro do Nucleos (fundo de pensão de estatais do setor de energia nuclear), Gildásio Amado Filho, admitiu ontem na CPI dos Correios, que recebeu um representante de uma gestora de recursos a pedido do ex-assessor da Casa Civil e ex-secretário de Comunicação do PT, Marcelo Sereno. Nenhum negócio teria sido fechado.

A CPI investiga a suposta ligação entre ganhos de corretoras de valores contra fundos de pensão patrocinados por estatais e o esquema de caixa dois de partidos. A influência do governo e do PT nas decisões sobre os investimentos do Nucleos também é tema de apuração.

Amado Filho também admitiu que, em outubro de 2004, recebeu um recado de sua secretária para que atendesse a Fernando de Barros Teixeira, representante ASM Asset Management, uma gestora de recursos. O autor do recado era o ex-assessor da Casa Civil.

O ex-diretor disse que esteve com Sereno apenas duas vezes. O ex-assessor da Casa Civil deve ser ouvido nos próximos dias pela comissão.

Em entrevista concedida no mês de novembro, Amado Filho negou qualquer pedido. ¿Não conheço essa figura¿, disse, referindo-se a Sereno. O ex-assessor da Casa Civil foi procurado mas não retornou as ligações.