Título: Petistas na mira de relatório
Autor: Fernando Exman
Fonte: Jornal do Brasil, 19/01/2006, País, p. A3

Os integrantes da CPI dos Bingos começaram a analisar ontem um documento de quase nove anos que apontou indícios de corrupção envolvendo o PT e alguns de seus dirigentes: o relatório final de uma investigação realizada no Diretório Nacional do partido para apurar denúncias feitas pelo economista Paulo de Tarso Venceslau.

Em análise preliminar, o que mais chamou a atenção dos integrantes da CPI foram os depoimentos de Arlindo Chinaglia (PT-SP), hoje líder do PT na Câmara, e Paulo Okamotto, presidente do Sebrae.

Presidente do PT de São Paulo entre 93 e 95, Chinaglia afirmou, na auditoria, que havia ''comentários'' de que pudesse existir uma estrutura de arrecadação paralela à do próprio partido no estado.

Ex-secretário de Finanças de Campinas e São José dos Campos, Vensceslau depôs terça-feira na CPI dos Bingos. Acusou a Consultoria para Empresas e Municípios (CPEM) de agir de forma irregular nas prefeituras administradas pelo PT.

Paulo Okamotto, também na auditoria, disse que tinha a disposição de ajudar o PT na parte financeira. Segundo o documento, Okamotto contou que tinha se ''especializado em discutir uma política de finanças para o PT, para tentar contribuir para o partido nessa área''.

O documento relata que Okamotto tem conversado com ''quase todos'' os prefeitos do partido sobre a necessidade de ''se preparar'' para as eleições. Para ele, é necessário que ''formem relações de pessoas que podem vir a contribuir com o PT''.

O relatório, de 129 páginas, foi concluído no dia 16 de junho de 97, e contém resumos de depoimentos de petistas, entre os quais o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Chinaglia, o ex-deputado José Dirceu, cassado no ano passado, e Okamotto - no total, 35 militantes foram ouvidos.

Ontem, Venceslau disse que o relatório de sindicância nunca foi divulgado pela direção nacional do PT.

- Me baseio no relatório - disse o ex-militante sobre as acusações contra Okamotto.

A deputada Ângela Guadagnin (PT-SP), ex-prefeita de São José dos Campos (1993), confirma o que disse à comissão de sindicância em 1997. Segundo ela, Okamotto a procurou em busca de lista de fornecedores.

Assinado pelo jurista Hélio Bicudo, pelo deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), à época vereador, o relatório sugeriu também que o PT instaurasse processo ético-disciplinar contra Roberto Teixeira, compadre do presidente Lula. Segundo Paulo de Tarso, Teixeira seria a ligação entre CPEM e as prefeituras petistas.