Título: PMDB diz que terá candidato próprio
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 25/01/2006, País, p. A6

Partido marca para 19 de março a votação da escolha de seu representante na disputa pela Presidência da República

BRASÍLIA - O PMDB assumiu ontem, em reunião da Executiva Nacional, a candidatura própria ao Palácio do Planalto. No encontro, realizado pela manhã na Câmara, a legenda confirmou por aclamação a realização das prévias para escolha do nome do partido em 19 de março, marcou o segundo turno para o dia 26 do mesmo mês, caso necessário, e prorrogou as inscrições dos candidatos até o dia 11 de fevereiro. Historicamente dividido entre as antagônicas alas governista e oposicionista, o PMDB lançou para depois trair Ulysses Guimarães, em 1989, e Orestes Quércia, em 1994. Em 1998, novamente fragmentado, o partido inviabilizou o vôo solo de Itamar Franco. Em 2002, depois de meses fazendo juras de amor à candidatura própria, o PMDB preferiu sair como vice na chapa do tucano José Serra. Por que esse ano a história haveria de não se repetir para o partido?

¿ Das outras vezes o candidato foi escolhido pela cúpula. Foi imposto de cima para baixo. Dessa vez o candidato será escolhido pela militância e acolhido pelo partido, por isso será um super candidato. Tenho certeza de que teremos candidato próprio e que este candidato irá para o segundo turno ¿ disse entusiasmado o ex-governador do Rio Anthony Garotinho, pré-candidato do partido, em entrevista após a reunião.

O otimismo também pôde ser observado nas palavras do governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, outro pré-candidato inscrito nas prévias.

¿ O PMDB vive uma outra realidade, um momento diferente ¿ afirmou Rigotto. Apesar de exalarem confiança, os oposicionistas do partido armazenam munição nos bastidores para a nova queda-de-braço que se anuncia com o grupo integrante da base aliada do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Para evitar que eventual reviravolta no partido implique na derrubada da tese pela candidatura própria, a Executiva acolheu uma sugestão do senador Sérgio Cabral Filho (RJ). De acordo com a resolução, se porventura o vitorioso nas prévias desistir da candidatura até junho, o segundo colocado assume automaticamente.

Os oposicionistas do partido, liderados pelo presidente Michel Temer, também passaram os últimos dias atrás de apoios para a derrubada da verticalização na Câmara, regra pela qual as alianças nos estados devem observar a lógica daquelas celebradas no plano nacional. A votação deve ocorrer hoje.

O fim da verticalização é considerado o primeiro passo rumo à consolidação da candidatura própria, pois deixará os candidatos do partido nos estados livres para se coligarem com quem bem entenderem.

Pelos cálculos do partido em reunião na noite de anteontem na casa do governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz, a expectativa era de que a regra será mesmo derrubada.

Conforme antecipou ontem o Jornal do Brasil, a ala governista do PMDB trabalha para isolar a candidatura do ex-governador Anthony Garotinho. Até o início da noite de ontem, apenas Garotinho e Rigotto haviam oficializado a participação nas prévias.

¿ Já estou com 15%. Tenho certeza de que chegaremos ao segundo turno e venceremos ¿ afirmou o ex-governador do Rio.

Rigotto lembrou sua história no partido como a vitória na eleição em 2002, quando começou com menos de 4% nas pesquisas.

Coerentes com a estratégia de esvaziar a candidatura do ex-governador do Rio, os governistas do PMDB ensaiam o lançamento de pelo menos mais um nome para concorrer às prévias. Hesitam entre o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros, principal ausência ontem na reunião da Executiva, e o governador do Paraná, Roberto Requião.

¿ Os dois são bons nomes. Ainda tem muita coisa para acontecer. Não se pode comprar agora o camarão para uma festa que só vai acontecer em junho (data limite para a homologação da candidatura). Tudo é possível entre os seres humanos ¿ afirmou o líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB), ao deixar o encontro.

Michel Temer afirmou que se o partido não conseguir chegar ao segundo turno, deverá ser discutido o apoio a algum outro candidato:

¿ Mas vamos fazer uma coalizão eleitoral e uma coalizão governamental.

Logo após, Garotinho pediu a palavra para reafirmar que a possibilidade de fazer alianças não existe porque ele vencerá a eleição.