Título: Brasil e Argentina discutem crise do Mercosul
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Fonte: Jornal do Brasil, 19/01/2006, País, p. A5
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu colega argentino, Néstor Kirchner, reafirmaram ontem o caráter ''estratégico'' da aliança bilateral e prometeram reforçar o Mercosul atendendo às reclamações dos sócios menores do bloco, Paraguai e Uruguai.
- Não é interesse do Brasil nem da Argentina que as assimetrias se tornem estruturais - disse Lula nas declarações que os dois presidentes deram a jornalistas após uma reunião de duas horas no Planalto.
- Reitero ao presidente Kirchner a disposição brasileira de colaborar na identificação de medidas que ajudem a acelerar a reindustrialização já em curso na Argentina. Estamos abertos a propostas para aperfeiçoar os acordos setoriais que temos em áreas prioritárias, como a automotiva - acrescentou Lula.
A força das exportações brasileiras no mercado argentino, ainda com um câmbio desfavorável, tem provocado queixas de representantes da indústria local, que registrou no ano passado um déficit no seu comércio com o Brasil de mais de US$ 3 bilhões.
Kirchner, em seu discurso, pediu que se trabalhe no Mercosul para ''a radicação equilibrada dos investimentos'', que atualmente se dirigem principalmente às maiores economias do bloco.
Para atender a essas reclamações e continuar as conversações para a adoção de uma Cláusula de Adaptação Competitiva (CAC), que busca tornar legais as restrições ao comércio bilateral, a ministra argentina da Economia, Felisa Miceli, se reuniu com o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan.
- Nos preocupa que a integração seja efetiva no tema de investimentos e que haja complementariedade entre as duas economias - disse Miceli, assegurando que há tempo até 31 de janeiro para que seja definida a CAC.
Lula e Kirchner também discutiram temas de integração energética, incluindo a possível construção de um gasoduto para levar gás natural venezuelano ao Brasil e à Argentina.
O assunto voltará a ser discutido na quinta-feira em Brasília em uma reunião trilateral que terá também a presença do presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
Lula se referiu ainda ao descontentamento manifestado por Paraguai e Uruguai pelo andamento do Mercosul, por considerarem que não têm recebido o impulso de desenvolvimento esperado
- Precisamos ser generosos com nossos irmãos menores - afirmou.
Kirchner, por sua parte, assinalou que ''no Paraguai e Uruguai se fortalecem posturas críticas ao Mercosul'', pelo que pediu ''um exercício conjunto para atender às reclamações''.
No mais recente incidente sobre esse tema, funcionários uruguaios têm dito que o país deveria buscar um acordo comercial com os Estados Unidos, o que violaria as regras do Mercosul, que só permitem negociações em bloco com outros países.
O chanceler argentino, Jorge Taiana, que também integra a comitiva de Kirchner, disse que ''há necessidade de que a integração beneficie a todos e nós a estamos discutindo''.
Reuters