Título: Doações sob suspeita em Goiânia
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 19/01/2006, País, p. A6

Marina Pignataro Sant'Anna, concorrente ao governo de Goiás em 2002, foi a única candidata em todo o país patrocinada pela Qualix S.A. A empresa é investigada por montar uma ''máfia do lixo'' nas administrações do partido em São Paulo, Brasília e também em Goiânia. Vereadora pelo PT da capital e secretária de Comunicação no governo Pedro Wilson (PT), Marina é irmã do ex-editor-chefe de O Estado de S. Paulo Lourival Sant'Anna, investigado por falsificação de dossiê ao lado de seu ex-chefe, o assassino confesso Antônio Marcos Pimenta Neves. A Qualix doou R$ 100 mil para a campanha da irmã de Lourival Sant'Anna, número dois do assassino confesso Pimenta Neves. Segundo o promotor Umberto Machado, o Ministério Público pediu a devolução de R$ 13 milhões de um dos contratos da Qualix na cidade, fechado na administração Nion Albernaz. Os contratos da empresa atravessaram a gestão Pedro Wilson. São investigados e questionados até hoje pelo Ministério Público. Investigadores goianos que acompanharam o caso afirmam que, antes da administração petista, a apuração de eventual pagamento de propina recaía sobre personalidades políticas. Depois que o PT assumiu a prefeitura, a suspeita passou a recair sobre repasses diretamente para o partido, esquema supostamente montado pelo ex-tesoureiro Delúbio Soares.

- É o que chamamos de uma ''mão de volta'' - diz um dos investigadores, referindo-se a supostos benefícios que a empresa ganharia, caso Marina ganhasse a eleição.

A relação de Marina com a família de Delúbio Soares é muito estreita. O ex-tesoureiro do PT - principal administrador do mensalão pago pelo partido a parlamentares - era interlocutor de Marina junto ao Palácio do Planalto e órgãos federais em Brasília. O irmão de Delúbio, Carlos Soares, é suplente de vereador do PT em Goiânia. O escândalo envolvendo o irmão não abalou Carlos, que ontem foi visto engolindo seu lanche diário no Bandeira Café, em Goiânia.

O coordenador financeiro da campanha de Marina foi Adhemar Palocci, irmão do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, que também teve os contratos de lixo questionados em sua gestão à frente da Prefeitura de Ribeirão Preto. A Qualix, que também utilizou a denominação Enterpa, é investigada por fraudar os contratos com a Prefeitura de São Paulo, na gestão Marta Suplicy.

No ano passado, o Ministério Público Federal desferiu um golpe na Qualix, que presta serviços à empresa Belacap, responsável pelo lixo em Brasília. Durante a operação, a PF fez buscas e apreensões em Brasília e Goiânia. Os agentes encontraram em Goiânia R$ 138 mil em dinheiro, além de US$ 8 mil. Segundo reportagem publicada no Jornal Opção, de Goiânia, foram encontradas várias pepitas de ouro no apartamento do diretor da Belacap, Luiz Antônio Flores, sem comprovação de origem e sem declaração fiscal. O mesmo periódico goiano denunciou que a partir do contrato entre a Belacap e a Qualix, em 1999 - antes da irmã de Lourival Sant'Anna virar secretária em Goiânia e ser beneficiada com contribuição na campanha - o Ministério Público identificou um grande aumento do patrimônio de Luiz Antônio Flores, de seus filhos e de seu assessor especial, Divino Barbosa Cintra. Nas contas foram descobertos depósitos em dinheiro vivo de R$ 2 milhões, além da identificação de propriedades rurais em vários municípios

goianos. Segundo a investigação, Divino Barbosa foi o responsável pela confecção do edital de concorrência vencido pela Enterpa, antiga denominação da Qualix, para cuidar da limpeza urbana em Goiânia, através da Companhia Municipal de Urbanização de Goiânia (Comurg), cujo último presidente foi o marido de Marina, Argemiro Mendonça.