Título: Código é deixado de lado
Autor: Florença Mazza e Waleska Borges
Fonte: Jornal do Brasil, 25/01/2006, Rio, p. A13

Nos hospitais públicos do Rio, a Escolha de Sofia não se limita à decisão pelos pacientes que serão salvos. Sem condições de trabalho, com falta de equipamentos e de remédios, os médicos se vêem obrigados a escolher entre obedecer ao código de ética ou improvisar o atendimento. Muitas vezes, os remédios precisam ser substituídos por outras medicações e os equipamentos ganham reparos manuais feitos pelos próprios profissionais. Médica de um posto de saúde em uma favela da Zona Sul, V. conta que, quando há falta de remédios na unidade, ela receita injeção de Besetacil para não deixar as crianças sem tratamento.

- Elas sofrem com a injeção, mas não há outra maneira de ajudá-las - desabafa a médica.

O presidente do Sindicato dos Médicos do Rio (SinMed), Jorge Darze, lembra que no Artigo 1º do Código de Ética Médica os médicos recebem a orientação: ''A medicina é uma profissão a serviço da saúde do ser humano e da coletividade e deve ser exercida sem discriminação de qualquer natureza''.

- O médico não discrimina o paciente no momento do atendimento. Ele passa o remédio tanto para o paciente que tem condição de comprá-lo como para o que não tem. Mas, aquele que não tem recurso e não consegue o remédio no hospital público, está sendo discriminado pelas autoridades - avalia Darze.

Indignado, o presidente do SinMed lembra que os médicos tentam fazer o melhor possível para atender os pacientes. Ele conta que, ano passado, antes da intervenção federal, um médico do Hospital do Andaraí passou a madrugada acordado apertando uma bola de borracha para fazer a ventilação mecânica em uma criança, já que o respirador estava quebrado. A menina sobreviveu por algumas horas, mas morreu depois da troca de plantão.