Título: CPI dos Bingos vira arma eleitoral
Autor: Fernando Exman
Fonte: Jornal do Brasil, 22/01/2006, País, p. A5

Comissão intensifica investigações e se transforma no principal instrumento da oposição para atacar o governo

BRASÍLIA - Com o arrefecimento da CPI dos Correios, que deve votar seu relatório final e ser encerrada já no primeiro trimestre deste ano, a CPI dos Bingos pode se tornar o principal instrumento da oposição no período pré-eleitoral. A avaliação, de alguns parlamentares petistas, ressalta ainda que a oposição apostará nas investigações que podem atingir o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O senador Tião Viana (PT-AC) afirma que a intenção da oposição - que é maioria na CPI dos Bingos - é trazer o clima de disputa eleitoral para o plenário da comissão. Dois sinais disso, aponta o petista que tem liderado a defesa do governo e de seu partido na CPI, é a convocação de Roberto Teixeira e a quebra dos sigilos bancário, telefônico e fiscal do presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Paulo Okamoto.

Ambos têm ligações com o presidente Lula. O primeiro, segundo afirmou o ex-petista Paulo de Tarso Venceslau em depoimento à CPI , cedeu um de seus apartamentos para que o presidente morasse de graça por cerca de dez anos e está envolvido em esquema de corrupção. Já Okamoto admitiu ter pago contas de aproximadamente R$ 30 mil do presidente.

O presidente do Sebrae foi acusado por Venceslau de ser responsável por arrecadar recursos para campanhas eleitorais do PT de empresas que prestavam serviços a prefeituras administradas pela legenda. Venceslau encaminhou à CPI documento produzido por uma auditoria interna do PT que comprovaria a denúncia.

- Depois do depoimento do Roberto Teixeira e após ficar comprovado os bons antecedentes de Okamoto, a CPI terá fadiga de material - afirmou Viana.

O presidente da CPI dos Bingos, senador Efraim Morais (PFL-PB), diz que não há intenção por parte dos integrantes da comissão de fazer da CPI um palanque político. E ironizou a preocupação dos petistas:

- Eles têm que ficar tranqüilos, a não ser que tenham responsabilidade sobre os fatos, os quais foram gerados pela própria história do PT.

Outra frente de investigação que deve ser explorada pelos integrantes da CPI dos Bingos é o possível envolvimento do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, em irregularidades na sua gestão à frente da prefeitura de Ribeirão Preto (SP) e na captação irregular de recursos para as campanhas petistas de 2002, quando o presidente Lula foi eleito. Na época, Palocci foi nomeado coordenador do programa da campanha presidencial petista.

Na quinta-feira, o motorista do Ministério da Fazenda no Rio de Janeiro Éder Eustáquio Macedo disse à CPI que transportou o ministro em São Paulo em 2002. Macedo, que prestava serviços a uma locadora de carros, é o condutor do automóvel blindado que supostamente foi utilizado por ex-secretários de Palocci para carregar dólares enviados por Cuba à campanha do PT.

No mesmo dia, parcela da oposição voltou a atacar Palocci. E o presidente da CPI dos Bingos assegurou mais uma vez que colocará em votação até quarta-feira um requerimento que pede a convocação de Palocci, caso o ministro não marque uma data para apresentar-se espontaneamente à comissão.

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) sugeriu que Palocci deveria sair do Ministério da Fazenda. Para o tucano, o responsável pela condução da economia do país não pode ficar no cargo sob ''séria suspeição''.

Apesar disso tudo, o senador Tião Viana considera desnecessário o reforço da bancada governista na CPI dos Bingos. O petista afirma, porém, que será preciso monitorar o andamento dos trabalhos e a votação, na quarta-feira, do relatório parcial produzido pelo relator da comissão, senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN).