Título: Mais uma do PT
Autor: Márcio Fortes
Fonte: Jornal do Brasil, 19/01/2006, Outras Opiniões, p. A11

Só mesmo interesses políticos podem explicar a decisão da Petrobras de preterir Niterói como base para as operações para exploração de petróleo e gás na Bacia de Santos. A cidade já tinha sido prejudicada recentemente na licitação da Transpetro, que deixou de fora vários de seus estaleiros. Agora, é sacrificada mais uma vez pela conhecida má vontade do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o Estado do Rio de Janeiro.

Do ponto de vista técnico, não há como justificar a escolha de Santos para receber a nova unidade de negócios da estatal, que vai receber investimentos de US$ 18 bilhões nos próximos 10 anos. Os motivos alegados pela direção da empresa são tão insustentáveis que parecem até provocação ao povo do Estado do Rio de Janeiro e aos niteroienses em particular.

Disse o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, que a cidade de Santos era a melhor opção por causa da logística e pelas possibilidades oferecidas para atrair especialistas. Já o diretor de Exploração e Produção, Guilherme Estrella, apelou para o aspecto geográfico. Esta última pode até ser uma explicação se considerarmos a geografia eleitoral do PT paulista. Quanto às outras duas, são quase um insulto a um município que tem vocação para o petróleo e já comprovou as vantagens econômicas e técnicas que oferece.

A área da Bacia de Santos também abrange São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Mas é no litoral do Estado do Rio que estão as principais reservas de óleo e gás, algumas delas bem em frente a Niterói. É o caso do bloco BS-500, onde se localizam as maiores acumulações de gás encontradas até agora na região.

Também o BS-400, outra área promissora da empresa, fica em nosso litoral, em frente a Mangaratiba e Angra dos Reis, mais próximo, portanto, de Niterói. E é para o lado do fluminense que aponta a rota das descobertas na Bacia de Santos.

O município também já é base para operações de grandes companhias estrangeiras na Bacia de Campos, como BG e Maersk Oil, e tem a melhor infra-estrutura de apoio marítimo. Além do porto de Niterói, possui os terminais do estaleiro MacLaren e da Brasco, os três voltados para a indústria de petróleo.

Qual, então, a vantagem logística de Santos, como quer nos fazer crer o presidente da Petrobras?

O Estado do Rio não só responde por mais de 80% da produção nacional como é também o centro de conhecimento de petróleo no Brasil. Os principais programas tecnológicos brasileiros na área têm saído da Coppe, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e do Centro de Pesquisa da própria Petrobras, o Cenpes.

E a Universidade Federal Fluminense integra hoje um importante pólo de tecnologia voltado para a indústria naval e offshore, o que garante a oferta de mão-de-obra capacitada. Nunca houve qualquer dificuldade para a atração de especialistas, como alega José Sérgio Gabrielli.

Se não há justificativas técnicas, beneficiar mais uma vez São Paulo em detrimento do Rio de Janeiro só se explica para necessidade de adular o empresariado paulista num ano eleitoral particularmente difícil para o PT. Ainda que isso custe sacrificar uma cidade governada por um petista. Não por acaso, dois petistas paulistas de alto coturno - Aloizio Mercadante e Marta Suplicy - estavam ao lado do presidente da Petrobras no anúncio de que o Estado do Rio perdeu mais uma.