Título: Além do Fato: Tempos de refluxo
Autor: Sergio Duran
Fonte: Jornal do Brasil, 22/01/2006, País, p. A3

Os partidos políticos são instituições frágeis no Brasil, todos sabemos. A Pesquisa IBPS-JB, no entanto, demonstra e quantifica não somente essa fragilidade, mas também o seu declínio na vida política brasileira. Outra importante conclusão desta pesquisa é, para o bem de todos, a insignificância da campanha pelo voto nulo, uma vez que nenhuma tendência a esse comportamento verificou-se entre os eleitores do Estado do Rio de Janeiro. Mais que uma atitude de negação, o eleitorado parece ter se colocado em refluxo, numa posição de quem aguarda para ver que candidatos empunharão que bandeiras nas próximas eleições. A falta de identificação partidária no Brasil tem um índice: 71,4% dos eleitores não se importam com o partido na hora de votar, mas apenas com o candidato. Essa atitude dos eleitores explica-se por uma legislação partidária suficientemente frouxa para permitir constantes trocas de partido por parlamentares, governadores e prefeitos ao sabor das conveniências eleitorais ou conjunturais. Por isso, o eleitor brasileiro não considera os partidos importantes.

Dentre os partidos brasileiros, o PT tradicionalmente tem um importante voto de legenda. Nas eleições de 2002 os votos de legenda representaram nada menos que 19,1% do total de votos do PT para deputado federal no Estado do Rio, contra 5,7% do PMDB e 9,9% do PSB que, à época, abrigava o grupo político do ex-governador Garotinho. Segundo os dados apurados pela Pesquisa IBPS-JB o PT teria hoje apenas 13,5% de votos de legenda, o que representa uma perda de mais de 40 mil votos para deputado federal e de mais de 69 mil votos para deputado estadual. As maiores perdas do PT foram, entretanto, no seu capital de votos majoritários. Computados os percentuais obtidos pelo partido em 2002 e comparando-os com os índices obtidos na pesquisa, o PT perdeu mais de 1,5 milhão de votos para Presidente, mais de 2 milhões de votos para Governador e mais de 200 mil votos para Senador.

Se o PT aparece então como um dos grandes perdedores desta crise política, não é seguramente o único. Se realizarmos os mesmos cálculos para o grupo político liderado por Anthony Garotinho, encontraremos resultados muito similares: a perda de Garotinho em intenções de voto para Presidente é de mais de 1,3 milhão de votos, de mais de 1,9 milhão para Governador e de mais de 4,4 milhões de votos para Senador. Como se vê, o eleitor está sendo implacável com todas as forças políticas. A crise política não aproveita a ninguém na classe política. A tese do ¿quanto pior melhor¿ ou de ¿sangrar o PT¿ é, na verdade, uma tese coletivamente suicida.

Outra importante conclusão da pesquisa IBPS-JB é de dimensionar o movimento pelo voto nulo. Os índices de intenção de voto nulo variam bastante, dos 14,5% na eleição para o Senado até os menos de 3% nas eleições proporcionais. Na eleição para Presidente, apenas 6,6% vão votar nulo e na eleição para o Governo do Estado são 10,5%. Levando-se em consideração que estamos a mais de oito meses das eleições, que o quadro eleitoral ainda não se encontra totalmente definido e que o número de indecisos é relativamente alto: 89% dos eleitores para deputado estadual e 88% dos que vão votar para deputado federal.

Aparentemente a campanha pelo voto nulo não teve qualquer influência significativa no cenário político. O eleitorado encontra-se menos em atitude de recusa que em atitude de espera. Os índices mostrados na pesquisa são, descontada a margem de erro de 3,0% para os cargos majoritários e de 2,0% para os proporcionais, absolutamente normais. E isso é muito bom para a cidadania, pois a opção pelo voto nulo é um verdadeiro ¿tiro pela culatra¿, já que os votos nulos e brancos são excluídos do cálculo do quociente eleitoral, o qual define o número de votos necessários para um deputado se eleger. Com isso, cai o mínimo exigido por lei para que o partido faça um deputado, o que, na prática, só ajuda os políticos no seu desejo de chegar ou de permanecer no poder.

Costuma-se dizer entre os pesquisadores que a pesquisa nada faz além de confirmar o que todos já sabemos. E esta pesquisa demonstra que o eleitor brasileiro é muito mais sábio do que parece.