Título: Governo zera fatia atrelada ao câmbio
Autor: Mariana Carneiro e Fernando Exman
Fonte: Jornal do Brasil, 24/01/2006, Economia & Negócios, p. A17

RIO e BRASÍLIA - O fato mais comemorado pelo governo, no entanto, foi o fato de o Brasil ter zerado a parcela da dívida atrelada ao dólar, que já respondeu por cerca de 40% do passivo do país. Segundo nota divulgada ontem pelo BC e pelo Tesouro, em dezembro do ano passado, a dívida atrelada ao câmbio somava R$ 11,4 bilhões ou 1,16% do total. No entanto, até o dia 20 de janeiro o governo realizou o resgate líquido de US$ 6,1 bilhões por meio de instrumentos cambiais - os chamados swaps cambiais reversos, usados para enxugar o mercado de câmbio -, superando assim o montante que representava o passivo cambial da dívida.

- Foi zerada a exposição em câmbio. Agora, temos uma posição ativa em relação ao dólar - afirmou o chefe do Departamento de Operações de Mercado Aberto do Banco Central, Ivan de Oliveira Lima.

Na opinião do economista Roberto Padovani, sócio da consultoria Tendências, o principal problema da dívida ainda é seu perfil, já que o passivo hoje oscila em torno de 50% do PIB (Produto Interno Bruto).

- O Tesouro deve caminhar no sentido de melhorar a dívida, já que o superávit primário caminha bem - avalia.

Outra vitória anunciada pelo governo é a maior exposição a títulos prefixados (remuneração determinada). A dívida atrelada a esses papéis subiu de 20,09% para 27,86%.

- Houve a redução do risco implícito na dívida e o aumento do prazo médio dela - comentou Paulo Valle.

No entanto, a parte da dívida indexada aos juros registrou leve alta, de 52,41% para 53,3%.

Para o economista Fernando de Holanda Barbosa, zerar a dívida cambial foi uma decisão acertada, uma vez que manter parte do passivo atrelado ao dólar em um regime flutuante é um perigo potencial.

- O câmbio é mais volátil neste modelo e não é recomendável que o governo mantenha dívidas em dólar - diz.

Dessa maneira, também, o governo assegura menor risco de um novo ajuste fiscal, em caso de choque externo, assim como ocorreu nas crises da Rússia e, em 2002, na tormenta que tomou o mercado diante da possibilidade de vitória do atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva.