Título: Juros engordam dívida em R$ 169 bi
Autor: Mariana Carneiro e Fernando Exman
Fonte: Jornal do Brasil, 24/01/2006, Economia & Negócios, p. A17

Endividamento cresce 20,9% em 2005 e atinge R$ 979 bilhões, puxado pelas taxas nas alturas

RIO e BRASÍLIA - Com os juros básicos da economia nas alturas, o resultado na área fiscal não poderia ser diferente. A dívida pública do país bateu R$ 979,6 bilhões no ano passado, alta de 20,9% em relação a 2004, ou R$ 169 bilhões a mais. E o aumento da taxa Selic - que durante quatro meses de 2005 ficou no pico de 19,75% ao ano - teve papel determinante, admite o Banco Central: engordou, sozinha, o passivo do governo em R$ 140,9 bilhões. Com a soma despendida em juros, o governo poderia pagar 900 vezes a operação tapa-buracos, que remenda algumas das estradas do país. É dinheiro equivalente a três vezes e meia o que o governo estima gastar com saúde em 2006 (R$ 41 bilhões).

Na avaliação do coordenador-geral de Operações da Dívida Pública do Tesouro Nacional, Paulo Valle, está tudo dentro do planejado:

- É um crescimento natural - diz.

O efeito colateral provocado pela política monetária excessivamente apertada sobre as contas do governo já foi, inclusive, motivo de protesto público do secretário do Tesouro, Joaquim Levy, que afirmou haver um ''desconforto na equipe econômica'' com as decisões do BC.

O fato provocou um ''puxão de orelhas'' do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, que afirmou não existir ''desconforto no ministério da Fazenda com relação à política de juros praticada pelo Banco Central''.

- Toda vez que o BC sobe os juros, há impacto quase imediato na política fiscal, o que causa um certo ruído na equipe econômica. Nenhum país do mundo tem uma política monetária que funcione desta maneira, com a taxa de juros remunerando a dívida de um país - explica o professor da Fundação Getulio Vargas (FGV-RJ) Fernando de Holanda Barbosa, secretário de Política Econômica da Fazenda no governo Itamar Franco.

Para Holanda, o governo deve se esforçar para reduzir a parte da dívida atrelada aos juros pós-fixados para um patamar próximo de 35% do passivo mobiliário total e levar os investidores aos títulos prefixados.

- Agora que os juros vão caindo, o mercado quer títulos prefixados e é isso que o governo vai usar este ano para melhorar a dívida - prevê.